Resumo: A presença da literatura oriunda da Antiguidade Grega e Romana é bastante patente em Machado de Assis, ainda que os estudos que busquem análises comparativas em sua obra foquem outras tradições. Nos últimos anos, porém, uma parte considerável da crítica começou a se atentar com mais cuidado no diálogo que o escritor fluminense produziu com a Antiguidade; nesse sentido, esta tese se propõe a ampliar o rol destes estudos comparativos entre Machado de Assis e a literatura grega e romana antigas. Para tanto, buscou-se analisar os dois últimos romances do escritor, Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), pelo fato de que ambos montam uma continuidade pela presença de um personagem central em comum: o conselheiro Aires. Deste modo, verificou-se que em ambos a presença da mundo Antigo é não somente bastante reiterada, mas complexa, se amarrando de maneira simbólica às narrativas que buscam representar um momento crucial da história do Brasil: o fim do Império. Ademais, percebeu-se também que o procedimento de evocação da Antiguidade nos dois romances se faz de maneira peculiar em relação a sua época, já que Machado de Assis produz um movimento de despotencialização dos signos da Antiguidade, na medida em que os rearticula e repotencializa em outro significado, fazendo chocar com o seu presente uma certa visão ideológica do mundo Clássico enquanto lugar de estabilidade e horizonte conservador durante os primeiros anos da Primeira República no Brasil. Assim, o escritor fluminense faria vir à tona uma elite intelectual brasileira que, na virada do século XIX para o XX, tenta se agarrar ferozmente a estruturas sociais arcaicas, num esforço de impedimento de verdadeiras transformações do Brasil.
Palavras-chave: Assis, Machado de, 1839-1908 - Crítica e interpretação; Ficção brasileira; Literatura comparada - Moderna e clássica; Assis, Machado de, 1839-1908. Esaú e Jacó; Assis, Machado de, 1839-1908. Memorial de Aires