Resumo

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"Quando alguém não fala língua, pareceu crianças nasceu agora" : diretrizes para português como língua de acolhimento para mulheres árabes em situação de refúgio

Raquel Heckert César Bastos

Orientador(a): Ana Cecília Cossi Bizon

Mestrado em Linguística Aplicada - 2021

Nro. chamada: DISSERTAÇÃO - B297


Resumo:
Este trabalho, que se insere entre as pesquisas de Linguística Aplicada Indisciplinar e Crítica (MOITA LOPES, 2006), emergiu na prática para se desenvolver teoricamente. Enquanto coordenava um curso de Português como Língua de Acolhimento (PLAc) para Mulheres Árabes em Situação de Refúgio (MASiR) em São Paulo, tive contato com demandas cotidianas das estudantes que não eram abordadas no curso. Por não conhecer as histórias das MASiR, nem sua relação com a língua portuguesa, eu tomava decisões pedagógicas a partir de imagens pré-concebidas que eu tinha sobre elas, baseadas no “discurso da falta” (DINIZ; NEVES, 2018). Optei, assim, por pesquisar o assunto de forma ética e responsável, o que pressupõe ouvir as MASiR e desenvolver a pesquisa junto com elas. Então, aliando-me a Sara, Lara, Sham, Luz, Mira e Lena, desenvolvi este trabalho tendo como objetivos gerais: (1) criar inteligibilidade acerca da relação de MASiR que se mudaram para São Paulo a partir de 2014 com o português, com o processo de aprendizado dessa língua e com seus usos em práticas sociais; (2) a partir de suas vozes e de vozes de outros envolvidos no processo de aprendizagem do português, levantar diretrizes para políticas de ensino de PLAc para esse contexto específico, de modo a contribuir para um processo mais efetivo de (re)territorialização (HAESBAERT, 2004) dessas mulheres. Por objetivos específicos, busquei: (i) identificar os espaços da cidade de São Paulo frequentados por esse público, mapeando que línguas são mais frequentemente utilizadas em cada espaço; (ii) identificar situações em que a língua portuguesa é obrigatoriamente utilizada por esse público; (iii) identificar e analisar necessidades desse público com relação à língua portuguesa, incluindo necessidades sócio-afetivas (VIAN JR., 2008); (iv) compreender como esse público se posiciona em relação à língua portuguesa e seu aprendizado. Para desenvolver este trabalho, ancorei-me nos conceitos de migração de crise (BAENINGER; PERES, 2017) e de Português como Língua de Acolhimento (ANUNCIAÇÃO, 2017; LOPES; DINIZ, 2018; BIZON; CAMARGO, 2018). A partir de duas orientações curriculares para as práticas de ensino de português como língua adicional (KRAEMER, 2012; BIZON; DINIZ, 2019) e de discussões sobre Análise de Necessidades (VIAN JR., 2008; SILVA, 2016) em diálogo com a análise de narrativas (WORTHAM, 2001; BIZON, 2013; DE FINA, 2015), desenvolvi algumas categorias próprias de análise. Utilizei um questionário, um grupo focal e duas conversas informais para gerar os registros na Associação Compassiva, onde atuei como coordenadora. As análises lançaram luz sobre quão complexo é esse contexto, dando origem a algumas diretrizes. Como resultados, destaco que as MASiR utilizam várias línguas, com o árabe predominando em esferas privadas e o português, em públicas, e têm uma média de escolarização maior que a média brasileira. Saúde e educação dos filhos foram os contextos de maior necessidade de português, e a sala de aula, mais que um local de aprendizagem, emergiu como ambiente essencial para socialização e fortalecimento emocional. A criança ocupou bastante espaço, aparecendo como motivação da aprendizagem, mas também como importante referência para metáforas.

Palavras-chave: Português como Língua de Acolhimento; Avaliação de necessidades; Migração de crise; Narrativas; Refugiados

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