Resumo

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A problemática da constatação na performativização da violência de gênero no discurso do Cidade Alerta

Eliana Sambo Machado

Orientador(a): Kanavillil Rajagopalan

Doutorado em Linguística - 2021

Nro. chamada: TESE DIGITAL - M18p


Resumo:
Ancorados nas interpretações que Rajagopalan (1989; 1992a; 1992b; 1996; 2003; 2010; 2014; 2016), Derrida (1990), os estudos de gênero (Butler, 1997; 1998; 2020) e a noção de jogos de linguagem (CHAUVIRÉ, 1991; WITTGEINSTEIN, 1994) - debatida em trabalhos da Nova pragmática (ALENCAR et al, 2014) - fazem da teoria dos Atos de Fala, neste estudo, analisamos enunciados performativos mobilizados na produção de textos do telejornal Cidade Alerta. O objetivo é compreender como os enunciados performativos, no contexto do telejornal Cidade Alerta, atuam como se fossem constativos ao operarem estilizações de gênero sobre mulheres vítimas de feminicídios. O corpus é composto por onze fragmentos qualitativos de matérias jornalísticas sobre crimes de feminicídios, disponíveis no site do Cidade Alerta e na plataforma gratuita do youtube, em períodos distintos. Para a fundamentação teórica das discussões, baseamos também no instrumental analítico ligado a uma dimensão social dos atos de fala advinda de conceitos da Linguística Antropológica, como ordens de indexicalidade (BLOMMAERT, 2006), alinhamento e enquadre de Goffman (1974). Este estudo reflete teoricamente sobre a problemática de enunciados que desconsideram a historicidade constitutiva das práticas de linguagem ao performarem uma constatação alinhada a versões específicas e dominantes sobre vítimas de violência de gênero em crimes de feminicídios. Observamos, no processo analítico, a emergência de ordens de indexicalidade de gênero patriarcais a partir das performances embargadas, via índices linguísticos (BLOOMAERT, 2006), aos corpos das vítimas, as quais sugerem a culpabilização feminina. Dessa forma, o percurso metodológico envolveu a transcrição das matérias, seleção das imagens e identificação de atos de fala relacionados às vítimas. Nas análises, evidenciamos estilizações de gênero ligadas às três temáticas observadas nos dados, as quais organizam performances femininas por uma prática linguística que age de forma duplamente danosa, uma vez que aniquila os corpos das vítimas e reitera sobre eles significados machistas que naturalizam a violência de gênero. À luz dessa análise, notamos que, a prática de linguagem do Cidade Alerta silencia formas sutis e evidentes do controle exercido pelo poder masculino e heterossexual sobre as vidas femininas constantemente aniquiladas nas matérias jornalísticas. O funcionamento da linguagem como ação social e a força ilocucionária dos atos de fala, colocam em xeque a vida feminina pré-determinada pelos dizeres que as descrevem. Por fim, os resultados indicam haver, na dinâmica dos jogos de linguagem, a produção de atos de fala mascarados em constativos, os quais impedem uma recepção plural dos textos jornalísticos vistos como ambíguos, porque expressam formas de vida que punem e julgam as ações das vítimas, enraizando uma visão essencialista das identidades sociais femininas.

Palavras-chave: Atos de fala (Linguistica); Feminicídio; Performances de gênero; Discurso jornalístico

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