Resumo: Museu de tudo (1975) é o 14º livro publicado por João Cabral de Melo Neto e foi pouco explorado pela crítica porque aparentemente não tem o mesmo rigor formal que os livros anteriores. O próprio poeta insinua que o livro “não chega ao vertebrado”, é “caixão de lixo ou arquivo” e se fez “sem risca ou risco”. Compreendemos que essas tensões na obra do poeta têm a ver com a sua condição de poeta moderno, pois disso surge a necessidade de responder à realidade na qual vive e de criar à sua maneira uma poesia que se firme dentro de uma herança literária. Nossa hipótese é que Museu de tudo funciona como uma arte poética, pois mantém aspectos já firmados pela crítica, como a racionalidade e a metalinguagem, mas introduz novos aspectos como a subjetividade e a experimentação com a forma do poema. Esse livro se constrói entre, pois João Cabral coloca, para coabitar em seu museu, artistas e escritores que seriam esquecidos junto àqueles que são lembrados o tempo todo. Nesse sentido, analisamos as fronteiras entre lixo e arquivo e como tempo e memória se configuram na alegoria do “museu”; apontamos dois temas importantes no livro, como a morte e o lugar de origem; verificamos as relações que o poeta estabelece entre a poesia e as outras artes e como sua obra influenciou seus contemporâneos.
Palavras-chave: Melo Neto, João Cabral de, 1920-1999. <em>Museu de tudo</em>; Poesia moderna; Crise; Arquivo; Outras artes