Resumo

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Racismo na história das ideias linguísticas : identidade da língua nacional e dos sujeitos brasileiros

Amanda Alves

Orientador(a): Sheila Elias de Oliveira

Mestrado em Linguística - 2021

Nro. chamada: DISSERTAÇÃO - AL87r


Resumo:
Inscrita na História das Ideias Linguísticas no Brasil, aliando a constituição do saber metalinguístico à construção da língua e da identidade nacional no século XIX, esta dissertação de mestrado tem como objeto o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa (1888), de Macedo Soares. Após um olhar sobre o conjunto do dicionário, o trabalho se dedica a compreender a designação de palavras cuja etimologia é atribuída a línguas africanas, questionando os sentidos de identidade para as línguas e os sujeitos brasileiros. O dicionário de Macedo Soares é um instrumento linguístico produzido na segunda metade do século XIX, momento histórico marcado por práticas de reivindicação de língua, escrita e literatura como elementos de uma identidade brasileira diferente da de Portugal, sendo as gramáticas e os dicionários importantes instrumentos de saber sobre a língua, e os brasileirismos elementos de destaque dessa construção do imaginário de identidade linguística. Mas afinal, se a maioria dos brasileirismos no dicionário de Macedo Soares é atribuído a línguas de origem africana, os sujeitos brasileiros que falam os brasileirismos são de origem africana? Os negros que em sua maioria naquele momento tinham sido submetidos à escravidão eram sujeitos de língua nacional ao se falar dos brasileirismos de origem africana nesse dicionário? Essas questões são abordadas a partir do conceito de designação de Guimarães (2002), a partir de um diálogo entre sua teoria da Enunciação e a Análise de Discurso como desenvolvida na França por Michel Pêcheux e no Brasil por Eni Orlandi. A significação das palavras é observada na relação entre as formas linguísticas nos textos dos verbetes e as condições sociais de produção desses enunciados, produzidos em espaços de enunciação em que funcionam desigualmente línguas e falantes – espaços políticos, portanto. Observamos uma divisão política dos sentidos dos brasileirismos e a representação de uma identidade nacional, pretensamente una e diferente de Portugal, em sua materialidade, no entanto a) contraditória, uma vez que o português do Brasil é sempre colocado em relação ao português de Portugal e definido como dialeto ou linguagem, não como língua de fato, evidenciando um movimento que nega a emancipação da língua do Brasil e mantém o imaginário de origem europeia para o nosso povo e a nossa língua; b) redutora, uma vez que a etimologia das línguas africanas é muitas vezes reduzida ao adjetivo “africano”, dividida em dúvidas questionáveis entre línguas ou relacionada ao contato com os portugueses; e c) racista, pois já não se trata de uma identidade brasileira diferente da portuguesa, mas de relações desiguais entre brancos/negros, brancos/indígenas, homens brancos/mulheres negras, brancos da elite/negros da plebe, ou seja, os sujeitos não brancos aparecem significados como “o outro” inferior nessa identidade dentro do espaço de enunciação do português do Brasil. Essa representação contraditória e racista também está presente em verbetes de etimologias e temáticas diversas, constatação que reitera a materialização do racismo estrutural na construção das ideias linguísticas sobre a identidade nacional.

Palavras-chave: Brasileirismo; Designação (Lingüística); Língua portuguesa - Brasil - Dicionários; Identidade nacional; Racismo

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