Resumo: Esta tese dedica-se ao estudo dos processos discursivos constitutivos da promessa de pacificação no âmbito das favelas da cidade do Rio de Janeiro. Como corpus de análise, estabeleço a diretriz ministerial nº 15 de 2010, denominada “Regras de Engajamento para a Força de Pacificação no Rio de Janeiro”, e o relatório da Anistia Internacional do Brasil, intitulado “A violência não faz parte desse jogo”, materiais que definem o percurso analítico desta pesquisa nas condições de produção de um Brasil pré-olímpico. Fundamentado no quadro teórico da análise do discurso materialista, o estudo investiga o estatuto da promessa enquanto um mecanismo discursivo de compromisso assumido juridicamente. Para isso, mobiliza uma escuta ao jogo no qual a língua de Estado comparece produzindo ilusões referenciais próprias, vinculadas às demandas de nossa formação social capitalista. Observando os saberes construídos pelos estudos performativos sobre a promessa, as compreensões se encaminham para problematizar sentidos relacionadas à favela, como aqueles atribuídos a uma leitura a-histórica, que a cola a sentidos de violência, ou a leituras que a significam pela imagem de uma zona de guerra, espaço de exceção jurídica. Assim, os capítulos enveredam por modos discursivos de desarticulação das condições de felicidade do performativo, inscrevendo a promessa na ordem histórica e visibilizando seu funcionamento político. Entre efeitos simultâneos de promessa e ameaça, o percurso analítico atesta a tensão contraditória na relação favela e Estado, cidade e favela, atentando para uma memória de apartação atravessada pelo racismo decorrente de nossa estrutura social. O trabalho de análise, ainda, conduz a investigação aos movimentos pelos quais o comprometimento instituído juridicamente inscreve a paz no social, assinalando as regularidades que o particularizam, como a tautologia própria à potência imaginária do performativo e a predicação do futuro, indicando que, nos materiais, enquanto a favela permanece silenciada, o desejo por paz circula socialmente, produzindo sentido para os sujeitos.
Palavras-chave: Análise do discurso; Favelas; Pacificação