Resumo: Nesta pesquisa, analiso os cinco primeiros anos da correspondência dos padres jesuítas enviados em missão catequética às cidades de Salvador, São Vicente, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro, buscando dar relevo a sua investidura retórica e teológica, a fim de evidenciar a efetividade de protocolos de legibilidade oriundos dessas instituições e algumas vezes subestimados em leituras e interpretações efetivamente mais interessadas em extrair das cartas acontecimentos positivos a compor uma História e testemunhos históricos de práticas culturais diversas, que fomentam a reflexão acadêmica em áreas como a História, a História Literária, a Pedagogia, a Sociologia, a História das Religiões e a Antropologia. Para isso, procurei demonstrar o caráter formular, impessoal, cartorial e categórico do discurso que as cartas produzem, a rigorosa disposição de suas partes, as inflexões narrativas que as tornam invariavelmente testemunho da ação favorável da Providência na condução da História e na fundação de Cidades de Deus agostinianas. Tais predicados vão de encontro à naturalização da matéria ali narrada como testemunho direto de coisas acontecidas. Além disso, analisei as relações entre as opiniões emitidas nas cartas sobre alguns dos temas mais candentes da recepção histórica da matéria do Brasil, tais como a nudez, o batismo, a confissão e a poligamia, e os debates eclesiásticos que corriam nos grandes centros da Europa estimulados pela ruptura protestante e sumarizados no Concílio de Trento. A ação escrita que corre nas cartas é finalmente delineada como uma estratégia catequética que implica matérias econômicas, políticas, morais, familiares, urbanísticas e jurídicas em estruturas de discurso em grande medida tributárias da Retórica e sistemas de opiniões largamente fundamentados na Teologia reformulada em termos da oposição entre a doutrina católica romana e a doutrina reformada.

Palavras-chave: Epistolografia; Companhia de Jesus; Retórica; Teologia; Século XVI