Resumo

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Arte satírica antiga e história literária moderna ilustradas pela centopeia poético-brasílica de padre-mestre José Joaquim Correia de Almeida (1820-1905)

Ednaldo Cândido Moreira Gomes

Orientador(a): Antonio Alcir Bernardez Pécora

Doutorado em Teoria e História Literária - 2021

Nro. chamada: TESE DIGITAL - G585a


Resumo:
Esta tese discute, ao feitio histórico-teórico, uma prática poética satírica de longa duração no Brasil que é desprezada pela crítica literária em que predomina a ideia nacional. Para esse fim, a “centopeia poético-brasílica” de José Joaquim Correia de Almeida (1820 – 1905) é ilustrada ao crivo das razões genéricas e específicas da arte satírica antiga e da história literária moderna (1805 – 1888). Nas sátiras selecionadas, investigamos os paradigmas técnico-compositivos — os semântico-pragmáticos e os simbólico-modelizantes — que as definem como prática satírica móbile e mista. Partimos do pressuposto de que esse corpus satiricum não só é ordenado às convenções do cômico de tradição greco-latina-cristã, mas também à profissão de fé dialogal de uma persona dotada de uma vis comica profícua. À vista disso, não se adota em todo o corpus satiricum mapeado (1820 – 1905) o exercício livre da criação poética sem familiaridade com o fazer lógico-retórico-ficcional da supracitada tradição greco-latina-cristã; do mesmo modo que não se perfilha a matéria ficcional libertina avessa aos costumes da doutrina católica — como é o caso, por exemplo, do sensualismo da prosa realista; ou da prática oitocentista abrangente do soneto sem argumento, sem tema, assunto ou proposição evidentes de um poeta “Margarida”. Aceita-se, afirmativamente, que os artifícios retórico-poéticos produzem artefatos satíricos cujos efeitos descritivos imateriais de alusão, de remissão e de evidência encenam conceitos e temas semelhantes àqueles propagados pelas instâncias de produção, de circulação e de recepção dos saberes oitocentistas. Assim sendo, a sátira considera falível (e risível) qualquer discurso humano que se propuser unívoco. Na pirâmide “dos saberes” dessa “centopeia poética” oitocentista, acima do intelecto humano e da sociedade está a metafísica cristã; abaixo e reunidos de modo quase equânime estão os homens e os brutos. Nos sentidos figurados pelas cenas satíricas há homens-brutos e brutos-homens, e é por isso que a animalia europeia é emulada nos textos como processo analógico didático que faz corresponder a matéria e o estilo satíricos apresentados em apólogos, epigramas, fábulas, quadras, sextilhas e sonetos, com o fim de se dramatizar os vícios humanos, abstraídos, comicamente, pelo ato de intelecção da persona que dramatiza a similitude imaterial das condições singulares e históricas de cada objeto ou preceito, ou pessoa, ou discurso. Esses gêneros poéticos têm em comum uma relação de símile satírica, metafórica, cujo decoro urbano horaciano é considerado a ponto de ter-se o autor adquirido em mais de uma ocasião os epítetos de “boca do céu” ou de “Tolentino brasileiro”.

Palavras-chave: Almeida, José Joaquim Correia de, 1820-1905; Sátira; Prática satírica; História literária; Arte satírica

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