Resumo: Objetiva-se a apresentação de uma pesquisa em história intelectual sobre os sentidos de Raízes do Brasil promovidos pelas leituras de Antonio Candido e Jessé Souza, de modo a investigar como e por que, mesmo associados a um espectro político das esquerdas, os dois intérpretes divergem tão profundamente. Como contraponto à figura de Sérgio Buarque de Holanda retratada por ambos os autores e com base na edição crítica de Raízes do Brasil (2016), proponho uma leitura a contrapelo sobre certos temas-chave do ensaio, como o eurocentrismo na dominância das raízes ibéricas, o papel secundário das raízes ameríndias e africanas, a cordialidade, o patrimonialismo, a “nossa revolução” e o mal-entendido da democracia. A partir de uma abordagem interpretativa mais próxima do contexto histórico-discursivo em que se desenvolvem os processos de amadurecimento e recepção de Raízes do Brasil, compreendo o célebre ensaio como um texto aberto, em mutação constante, ambivalente, análogo a um palimpsesto e cujas releituras e atualizações acompanham três momentos de radicalização e crises na história das instituições democrático-liberais no Brasil: a ditadura do Estado Novo (1937–1946), a ditadura empresarial-militar (1964–1985) e o mais recente período marcado pelo processo de impeachment em 2016 e o aprofundamento de políticas neoliberais.
Palavras-chave: Holanda, Sérgio Buarque de, 1902-1982. Raézes do Brasil; Candido, Antonio, 1918-2017; Souza, Jessé, 1960-; História intelectual