Resumo:
Esta pesquisa visa apresentar uma análise acerca do “Sublime” e do “Horrível” em Fausto: uma tragédia – primeira parte (1808), de Johann Wolfgang von Goethe, e Mefistofele (1868), ópera de Arrigo Boito baseada na tragédia alemã. “Sublime” é o termo que o compositor usa para definir a cena divina do Prólogo do Céu, tanto na tragédia quanto na ópera; Por outro lado, o “Horrível” é usado para categorizar a Noite do Sabá romântico, cena baseada na Noite de Valpúrgis da tragédia de Goethe, onde figuras demoníacas se reúnem para adorar Satã. Boito usa esses dois termos como extremos opostos de uma rosa-dos-ventos para descrever o Fausto de Goethe e, consequentemente, baseia-se nessas ideias para conceber sua ópera, única composição italiana memorável acerca do tema fáustico. Para desenvolver a análise proposta, o trabalho inicia com uma investigação sobre a lenda do Doutor Fausto, partindo da figura histórica que a inspira, Georgius Sabellicus, e dos dois escritos centrais seiscentistas sobre o tema, o livro de autor anônimo, de 1587, e a tragédia de Christopher Marlowe, de 1592. Posteriormente, é apresentada uma análise acerca do Fausto de Goethe, seguida das principais composições musicais inspiradas na tragédia e em outras versões da lenda, além das ideias do poeta alemão acerca da ópera ideal para seu Fausto. Adiante, discute-se a posição de Arrigo Boito no movimento boêmio italiano, a Scapigliatura, e sua trajetória como compositor, libretista, tradutor e crítico da arte de sua época, para então apresentar seu conceito para a ópera Mefistofele e seus esforços para alcançar uma obra que unisse, em perfeita harmonia, a música, a poesia e a cena. Finalmente, as duas cenas centrais que apresentam os aspectos “sublimes” e “horríveis” da ópera, o Prólogo no Céu e a Noite do Sabá romântico, são analisadas, considerando os aspectos textuais, musicais e cênicos. Essa análise se debruça na investigação dos seguintes materiais: o libreto da première de 1868, comparando-o às revisões de 1875 e 1879; as partituras publicadas entre 1880 e 1920; e cinco montagens da ópera apresentadas entre 1987 e 2015, construídas seguindo ideias tradicionais, que evocam as direções do compositor e a própria obra de Goethe, e modernas, desenvolvidas sobre a liberdade criativa dos diretores, que permitem-se mudar o rumo da narrativa, levando o enredo para além do cenário medieval proposto na primeira concepção da ópera.

Palavras-chave: Goethe, J. W. (Johann Wolfgang), 1749-1832 - Crítica e interpretação; Literatura alemã; Adaptações literárias; Ópera; Doutor Fausto (Personagem fictício)