Resumo: Esta tese é o resultado de uma investigação de aspectos gramaticais e psicolinguísticos de um fenômeno conhecido como elipse. Em particular, abordamos teórica e experimentalmente alguns potenciais casos de subgeração em elipse no português brasileiro, isto é, casos aceitáveis de elipse que, a rigor, não deveriam ser gerados pela gramática, já que, ao menos aparentemente, violam uma condição de identidade sintática esperada entre o material elidido e seu antecedente. Relativamente à discussão de aspectos gramaticais, argumentamos que alguns casos de mismatch entre um vP elidido e seu antecedente devem ser apropriadamente analisados como gramaticais, sendo o mismatch observado um mismatch meramente aparente, e a identidade sintática do material elidido e do seu antecedente calculada virtualmente, em termos de representações gramaticais abstratas. Quanto a aspectos psicolinguísticos do fenômeno, o nosso objetivo foi o de testar algumas previsões colocadas por uma literatura já ocupada com casos de subgeração em elipse (Cf. ARREGUI et al., 2006; KIM et al., 2011; PARKER, 2018). A principal previsão testada foi a de que haveria um claro desalinhamento entre a gramática e o processamento de elipse no português brasileiro. A partir de três ensaios experimentais (foram coletados dados de julgamento de aceitabilidade e dados de tempo de leitura por meio de uma técnica de leitura automonitorada), contrastamos respostas do processamento offline de elipse com respostas do seu processamento online, e verificamos um forte alinhamento entre a gramática e o processamento do fenômeno no português brasileiro. Os nossos achados são discutidos à luz do entendimento de Lewis e Phillips (2015), de que teoria gramatical e modelos de processamento são diferentes aspectos de um mesmo sistema cognitivo, mas não sistemas cognitivos distintos.

Palavras-chave: Elipse; Recuperabilidade sintática; Problema de subgeração; Desalinhamento gramática-processamento; Sistemas cognitivos