Resumo

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O Bode vai falar : sujeito Negro nas escrevivências de Oswaldo de Camargo, Márcio Barbosa e Cuti

Carlos André Ferreira

Orientador(a): Márcio Orlando Seligmann-Silva

Doutorado em Teoria e História Literária - 2021

Nro. chamada: TESE DIGITAL - F413b


Resumo:
Esta tese tem o objetivo de analisar as conformações do sujeito Negro nas obras de Oswaldo de Camargo, Márcio Barbosa e Luiz Silva (Cuti), buscando compreender em que medida essa escrita propõe uma ruptura com padrões que se colocam como hegemônicos e que concebem a literatura como discurso constituinte. A noção de discurso constituinte é compreendida, aqui, como sendo atravessada por instâncias que se relacionam a uma ideia de discurso literário baseado em modelos brancocêntricos que se querem normativos. Como resposta a esse movimento, a literatura Negra se configura como lugar privilegiado de resistência aos mecanismos de apagamento e de silenciamento de subjetividades Negras. Considerando a ausência de uma efetiva política de reparação no Brasil, percebe-se que, desde a abolição da escravatura, mulheres Negras e homens Negros foram completamente abandonados pelo poder público e tiveram suas vozes caladas por um empreendimento colonial que propôs o branqueamento como tentativa de uma chamada limpeza dos rastros Negros da formação étnica do povo brasileiro. Branqueamento este que, por sua vez, também é perceptível quando se considera o ideal de consolidação de um projeto de literatura nacional, que deixou a comunidade Negra de fora, embora mulheres Negras e homens Negros estivessem por toda parte. Essa nefasta lógica de apagamento de subjetividades empreendeu um movimento de outrização de Negras e de Negros no Brasil, como se essas pessoas sempre fossem aquelas(es) com quem ninguém devesse se importar, haja vista serem vistas tão somente como fazendo parte dos cruéis mecanismos de funcionamento da engrenagem colonial, segundo a qual, vidas consideradas subalternas são dispensáveis. No entanto, fazendo um trabalho de escovar a história a contrapelo, percebe-se o quanto a história dita oficial de nosso país legou essas pessoas a uma posição de inferioridade em detrimento de uma suposta superioridade do colonizador branco europeu. Em meio a toda essa violência, é mais do que urgente que eclodam narrativas que se coloquem contra esse padrão que ser quer único e que se arvora como detentor de uma pretensa ideia de verdade. Histórias como essas se encaixam num conceito conhecido como contraliteratura, que são aqueles textos escritos por sujeitos historicamente excluídos e que colocam o dedo na ferida das chamadas verdades oficiais, propondo-se à tarefa de se entender como são constituídos sujeitos donos de suas próprias vozes, e que se colocam no campo diametralmente oposto ao do discurso colonial responsável pela outrização. Ao assumir para si a urgência de falarem a partir de suas próprias experiências, escritoras Negras e escritores Negros se assumem como sujeitos de suas historias, constituindo-se, dessa maneira, como eus e não deixando que a lógica disseminadora da outrização continue a se perpetuar. É do testemunho daqueles que foram, historicamente, considerados subalternos que se ocupa este trabalho.

Palavras-chave: Literatura brasileira - Escritores negros; Literatura de testemunho; Teoria literária

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