Resumo: Tomando a ideia de "formação do Brasil" como uma categoria e estrutura de sentimento que modulou parte importante da produção artística e intelectual brasileira ao longo do século XX, procura-se entender qual o seu lugar na contemporaneidade. Seu programa, grosso modo, tinha como horizonte a junção da política e da cultura de modo a conformar uma civilização própria: a brasileira. Uma tradição, portanto, com esforço “civilizatório” e que se projetava ao futuro; o qual já teria “chegado”, sem a utopia ter se realizado efetivamente. Não por acaso, é ideia comum entre estudiosos da ideia de "formação do Brasil" e de sua respectiva tradição cultural que tal modelo encontra-se diante de limites: por um lado, seus diagnósticos já não têm a mesma força crítica de outros tempos; por outro, e em consequência, seus prognósticos são significativamente afetados, fazendo figura de ilusão. Isso posto, é interesse deste trabalho debater como artistas e intelectuais informados por esta tradição estão trabalhando com a erosão de antigos valores, bem como com a emergência de novos atores, racionalidades e epistemologias na cena político-cultural contemporânea. Nesse sentido, optou-se pelo estudo do romance Estorvo de Chico Buarque e do filme Aquarius, dirigido por Kleber Mendonça Filho. Buscou-se estabelecer, a partir do cotejo das obras, uma perspectiva profícua à compreensão dos impasses que a ideia de “formação do Brasil” tem enfrentado hoje, procurando pensá-los também em articulação com os processos e projetos de modernização levados a cabo no país.

Palavras-chave: Buarque, Chico, 1944-; Mendonça Filho, Kleber, 1968-; Cultura brasileira; Ideologia; Ficção brasileira - História e crítica