Resumo

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Sob(re) o desejo pela língua-cultura japonesa : o gozo do entre-lugares

Renan Kenji Sales Hayashi

Orientador(a): Maria José Rodrigues Faria Coracini

Doutorado em Linguística Aplicada - 2020

Nro. chamada: TESE DIGITAL - H323s


Resumo:
Investigam-se, na presente tese, as relações entre a língua-cultura japonesa e as representações de si e do outro de aprendizes e professores de japonês como língua estrangeira. O contexto de pesquisa foi uma universidade pública do Distrito Federal. Conduziu-se uma investigação com catorze participantes, cuja formação universitária – completa ou não – estava atrelada a um curso de licenciatura em língua japonesa. O foco da análise primou por compreender quais eram as representações de língua materna e estrangeira que os participantes tinham, considerando as línguas-culturas do português do Brasil e do japonês como pano de fundo. Objetivou-se, portanto, destacar de que forma essas representações sobre as línguas-culturas poderiam refletir as noções de identidade dos participantes, bem como a forma de compreensão do que é ser um professor de japonês no Brasil. A problemática disparadora teve por princípio um imaginário social recorrente de que o professor de língua japonesa deve ser um cidadão japonês ou um brasileiro que seja descendente de japoneses. Em contraste a esse imaginário social, verificou-se, no contexto investigado, que a expressiva maioria era de brasileiros não-descendentes, o que se refletiu igualmente na distribuição dos participantes de pesquisa, sendo quatro descendentes e dez não-descendentes. Com efeito, buscou-se analisar quais são as relações singulares que participantes tinham com o japonês, de tal forma que pretendiam não somente aprender a língua, como também almejavam tornar-se professor do idioma. À vista disso, cotejou-se o material levantando a fim de identificar se haveria uma relação de identificação diferente entre descendentes e não-descendentes no tocante à língua-cultura japonesa. Embora existam pesquisas relevantes sobre o ensino-aprendizagem de japonês no Brasil, não há estudos que abordem a questão ora examinada pelo prisma da Linguística Aplicada posta franco diálogo com a psicanálise freudo-lacaniana e com estudos filosófico-culturais de Foucault, Bhabha e Bataille. Justifica-se esse ponto de vista epistemológico dada a compreensão do caráter muito singular que o sujeito empreende com as línguas-culturas e seus significantes, envolvendo dimensões que rompem as fronteiras da aprendizagem meramente cognitiva e instrumental, adentrando, pois, na ordem do desejo e no campo do gozo, cujas articulações foram tão ricamente propostas pelos escritos de Freud e Lacan. Ademais, são nas proposições dos autores que problematizaram as noções de discurso, heterotopias, estereótipos culturais e as relações conflituosas do gozo com os interditos e as transgressões que foi possível encontrar estofo teórico para analisar com propriedade as questões que se manifestaram a partir do gesto analítico empreendido sobre o corpus. Destaca-se, por oportuno, que este corpus de pesquisa foi produzido a partir de entrevistas semiestruturadas, gravadas em áudio, e de um questionário escrito. Resultados de pesquisa apontam para eixos de análise que se estruturaram a partir de regularidades e dispersões. O primeiro eixo versa sobre as representações de si, cuja textura muita específica, viabilizada pela análise dos pseudônimos escolhidos pelos participantes, possibilitou um gesto de interpretação que pôs relevo na fragmentação das noções de língua materna e estrangeira, subvertendo uma possível ordem de aprendizagem e destacando o sentimento de pertença. O segundo eixo assevera a relação com o Outro japonês, cuja ligação quase sempre permeada pelos estereótipos culturais, abre margem para um outro tipo de operação fixada em imagens, o antítipo. No terceiro eixo, as relações de língua-cultura que tocam a dimensão do gozo são destacadas e analisadas a partir do crivo teórico selecionado pela pesquisa. O gesto analítico aponta para a direção de que o entre-lugares que se cria no contato entre as línguas-culturas do português e do japonês se constitui como um espaçamento gozoso. Não somente espaço de gozo, mas, sobretudo, um espaço de (de)morar, para o participante que encontra no japonês não somente uma possibilidade de confronto com seu desejo em ser o outro, como também e, mais proeminentemente, um acesso à possibilidade de ser um pouco o outro e gozar como ele goza em sua língua-cultura.

Palavras-chave: Língua japonesa; Psicanálise; Representação (Psicanálise); Gozo; Identidade

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