Resumo: Na língua Xavante, um fato se faz notar em relação a outras línguas Jê, especialmente o Xerente, língua irmã do Xavante: onde essas línguas apresentam uma oclusiva velar desvozeada, o Xavante apresenta, em seu lugar, uma oclusiva glotal. No Karajá, uma oclusiva velar desvozeada ocorre na fala feminina, mas não na fala masculina. O Xavante é a única das línguas Jê que não apresenta uma oclusiva velar desvozeada e o Karajá é a única das línguas Macro-Jê que apresenta marcada diferença entre fala masculina e feminina. Essa particular semelhança poderia ser interpretada, inicialmente, como mero resultado das histórias independentes de cada uma dessas línguas. No entanto, informações históricas sobre migrações dos Xavante atravessando território Karajá no fim do século XVIII permitem que se considere o contato linguístico como possível responsável por essa característica comum. É nessa direção que o presente trabalho se orienta. Como desdobramento dessa análise, pode-se colocar em discussão também, se certas outras características apontadas como de origem genética comum entre o Karajá e outras línguas Macro-Jê, usadas como comprovação do pertencimento da língua Karajá a esse tronco, também não seriam resultado de contato ao invés de origem genética.
Palavras-chave: Língua karajá; Língua Xavante; Tronco linguístico macro-Jê; Contato Linguístico