Resumo

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Poéticas do arquivo : Brasil : nunca mais, documentário (auto)biográfico e testemunho de vida

Liniane Haag-Brum

Orientador(a): Márcio Orlando Seligmann-Silva

Doutorado em Teoria e História Literária - 2020

Nro. chamada: TESE DIGITAL - H111p


Resumo:
Este estudo considera o testemunho (Benjamin, Derrida, Felman) como parti pris, voltando-se ao campo da cultura e da história como arquivo (Benjamin) e à linguagem vis-à-vis à memória e a recuperação da história da ditadura civil-militar brasileira (1964/1985). Há a proposição de um pressuposto poético, a partir da investigação do arquivo, do arquivamento e do gesto de autenticação do arquivo, - e relação dialética deste último com “o abalo da tradição” (Seligmann-Silva). Assenta-se, assim, uma rede textual que conduz da arquivística ao arquivo tomado filosoficamente por Derrida (1995). Trata-se de uma articulação conceitual cujo objetivo é apreciar como o gesto de autenticação – ou o querer autenticar - perfaz determinada poética que se manifesta em objetos culturais ligados à ditadura militar brasileira. Toma-se Brasil: Nunca Mais (1985), obra feita a partir do Projeto Brasil: Nunca Mais, alocado fisicamente no Arquivo Edgard Leunroth, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/Unicamp, sob a denominação coleção Brasil: Nunca Mais, dois documentários (auto)biográficos dirigidos por mulheres-familiares de vítimas da ditadura - Diário de uma Busca (2010), de Flávia Castro e Mariguella (2012), de Isa Grinspum Ferraz - e o romance Ainda Estou Aqui (2015), de Marcelo Rubens Paiva, como corpus. Como estratégia de aproximação ao Brasil: Nunca Mais, é proposta uma releitura a partir de sua história e circunstância de surgimento, entrelaçada a documentos de arquivo da instituição que o financiou, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI). No trabalho com a obra, foco privilegiado de atenção, revela-se o prefácio de dom Paulo Evaristo Arns enquanto evento fundacional da poética do arquivo, - compreendido como o espaço traumatizado onde se dá o testemunho das violações aos direitos humanos durante a ditadura civil-militar. O discurso do cardeal também se revela, nesse mesmo contexto, como um testemunho de vida (Felman). Diário de uma Busca e Mariguella são colocados em correlação a Brasil: Nunca Mais porque eles repetem o gesto arquivista fundacional nas suas narrações, porém, em outro momento de memória sobre a ditadura civil-militar brasileira. O que interessa, assim, é articulação testemunhal que os une a Brasil: Nunca Mais e, por sua vez, os liga também a Ainda Estou Aqui. Com relação à análise fílmica, foi utilizada a dicotomia entre arquivamento e “anarquivamento” de acordo Seligmann-Silva. Para ele, anarquivar seria o equivalente a “recolecionar as ruínas do arquivo e reconstruí-las de forma crítica” (2014), como alegoria ao que está encerrado no arquivo arcôntico (DERRIDA, 1995, 2001) ou arquivo tout court (termo nosso). Conjugou-se esse procedimento analítico a uma aproximação do método de Sylvie Lindeperg, a que estamos chamando de “o caminho das imagens” (LINDEPERG, 2013), conforme título de sua obra sobre o tema. A estudiosa considera o cinema como um agente e um operador da história, e propõe que se olhe para a historicidade da imagem de arquivo. Por fim, o romance Ainda Estou Aqui perfaz sua narratividade sob a tensão do arquivo que, visto desde o campo da linguagem, também gravita sob a influência da poética do arquivo. Procurou-se apreender, neste contexto escritural, como o documento de arquivo se comporta dentro de uma lógica que não a arquival e sua relação com a recente história brasileira.

Palavras-chave: Brasil, nunca mais; Arquivo; Documentário (Cinema); Testemunho; Brasil - História - 1964-1985

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