Resumo: Neste trabalho investigamos como Boécio (c. 480-524) define a música e o músico em seu tratado De Institutione Musica, no qual retoma fontes greco-romanas, em especial filosóficas, para discutir a relação entre música e moral, i.e., a música como meio de educação moral, considerando seu poder de enobrecer ou perverter o homem. Nesse sentido, investigamos o referido tratado dentro de um contexto definido pelo avanço do cristianismo na produção intelectual dos séculos V e VI d.C. A fim de investigar mais a fundo a forma como o texto boeciano se relaciona com esse contexto cultural no qual se insere, tecemos uma análise comparada do tratado boeciano com o De Musica de Agostinho de Hipona (354-430), escrito cerca de cem anos antes, que apresenta a música sob o aspecto da métrica poética. O foco é a construção discursiva de Boécio e Agostinho de Hipona, na sua relação com a “herança clássica” na área da música. Assim, a análise comparativa procura observar os pontos de contato entre os referidos tratados musicais a fim de investigar como os dois pensadores trazem autores e teorias da Antiguidade, relacionados aos aspectos morais da música, para suas obras no contexto tardo-antigo no qual escrevem.

Palavras-chave: Boécio, -524. De institutione musica; Agostinho, Santo, Bispo de Hipona, 354-430; Músico; Música