Resumo: Pensar sobre as classes de palavras (ClPs) e sobre o modo como são apresentadas é pensar também sobre o ensino de gramática. Assim, torna-se importante refletir sobre o modo como as ClPs são ensinadas, principalmente sobre o modo como os livros didáticos (LDs) as conceituam, uma vez que esses materiais geralmente norteiam as práticas didáticas. Uma análise de LDs evidencia que a definição de ClPs privilegia, na maior parte dos casos, os critérios morfossemânticos, o que se justifica pela influência da tradição gramatical sobre esses materiais. A assunção de critérios sintáticos, no entanto, seria de grande valia nas aulas de análise gramatical sobre ClPs, contribuindo para que os alunos tivessem uma compreensão mais abrangente desse importante tópico do curriculum de português. Partindo desse contexto, esta dissertação tem dois objetivos principais: o primeiro deles consiste em analisar a transposição didática do conceito de “advérbio” em seis livros didáticos brasileiros destinados ao Ensino Médio. A fim de cumprir esse objetivo, identificarei os critérios usados na classificação dos vocábulos e verificarei também se há (ou não) indícios subjacentes (GINZBURG [1981], 1991) da presença de alguma teoria linguística, como a gerativista, na abordagem dos autores. As análises feitas demonstraram que os autores dos LDs selecionados utilizam, em quase sua totalidade, todos os critérios classificatórios (morfológico, semântico e sintático) para conceituar a classe dos advérbios. O que se observou, no entanto, é que há, normalmente, uma predileção dos autores por um ou dois dos critérios classificatórios (sobretudo os critérios morfossemânticos, explorados em maior profundidade ao longo do capítulo, o que, consequentemente, pode estimular os alunos a focarem somente alguns dos critérios para o entendimento dos advérbios). Constatou-se também uma predileção da maior parte dos autores por seguir o postulado pela tradição gramatical. De posse desses resultados de análise, cumpro o segundo objetivo desta dissertação: apresentar uma metodologia de trabalho para o ensino, embasada nos pressupostos da Gramática Gerativa (CHOMSKY, 1994), principalmente na vertente cartográfica da teoria de Princípios e Parâmetros (CINQUE, 1999), e na Metodologia de Aprendizagem Ativa (VALENTE, 2014; MORAN, 2013). Tal metodologia visa à inserção da investigação científica no contexto de sala de aula, o que possibilita ao aluno uma participação mais ativa no seu próprio processo de ensino-aprendizagem e um maior entendimento sobre o conteúdo aprendido. O resultado dessa dissertação foi, então, o de propor que professores (e autores de LDs) se embasem também (e sobretudo) em critérios sintáticos para classificar os vocábulos em ClPs. Uma atenção maior dada a esses critérios permitiria aos alunos uma tomada de consciência sobre o conhecimento implícito (CHOMSKY, 1994) que têm do funcionamento e estruturação de sua própria língua.

Palavras-chave: Língua portuguesa - Advérbio; Classes de palavras; Livros didáticos; Gramática Gerativa