Resumo: A presente tese de Doutoramento pretende fornecer à Hypnerotomachia Poliphili uma chave hermenêutica baseada na aproximação dessa obra com os studioli e câmaras de maravilha que pontuaram o meio erudito da Europa notavelmente durante os séculos XIV a XVI. Tanto esses espaços, como a obra, atribuída a Francesco Colonna e publicada pela primeira vez em 1499, são concebidos e materializados via expedientes retóricos e materiais que remetam ao colecionismo: da categorização à formação de listas, galerias e afins. No livro, são inúmeras e reincidentes as expressões da pletora e da abundância, por meio de vastos conjuntos de itens, representados tanto verbalmente como em ilustrações. Se observado o histórico da crítica dessa obra, os distintos âmbitos temáticos (arquitetura, botânica, saúde, farmácia, arte, vestuário, linguagem, entre outros) que pontuam a narrativa polifilesca -- a princípio, uma jornada amorosa -- são recorrentementes apontados como responsáveis pelo hermetismo do texto e mesmo por sua eventual ilegibilidade. Uma vez compreendido sob o mesmo viés organizador e provedor do conhecimento sob o qual se organizam studioli e câmaras de maravilha, tal recurso ao colecionismo, curioso e vinculado ao enciclopedismo pliniano, passa a poder ser compreendido como motivo compositivo central da Hypnerotomachia. Sob essa chave de leitura, é possível concatenar, sob um propósito comum e coerente, seus mais diversos e controversos aspectos, desde características materiais até os muitos possíveis fins educacionais ou fruitivos do livro. É, pois, no sentido de tecer relações e fornecer subsídios teóricos, históricos, artísticos e retóricos para demonstrar a viabilidade da compreensão da Hypnerotomachia Polifili como uma câmara maravilhosa das Letras, que se realiza o presente estudo.
Palavras-chave: Colonna, Francesco, m. 1527. <em>Hypnerotomachia Poliphili</em> - Crítica e interpretação; Retórica antiga; Gabinetes de curiosidades