Resumo: Esta pesquisa foi produzida a partir da escuta, do registro e da análise de narrativas orais, especialmente de caráter autobiográfico, de mulheres que vivem ou viveram em situação de rua nas cidades de Campinas (SP) e de São Paulo (SP). As narrativas de duas mulheres, obtidas por meio de entrevistas, são centrais no trabalho e ganharam destaque nas análises, sendo colocadas em diálogo com as falas de outras mulheres que também vivem ou viveram em situação de rua, as quais foram registradas ao longo do trabalho de campo ou publicadas por outros pesquisadores. Trata-se, portanto, de um trabalho de articulação de vozes e de percepções, que tem como objetivo principal a investigação das representações formuladas por essas mulheres sobre si mesmas e sobre suas realidades sociais. Para isso, partiu-se de considerações teórico-metodológicas de campos como a História Oral e do trabalho com narrativas autobiográficas, como os realizados por Bosi (1994) e por Arfuch (2010). Além disso, são importantes para o trabalho as discussões teóricas realizadas a partir dos estudos de gênero, como as propostas por Butler (2003; 2018) e por Hooks (2019). As análises formuladas foram organizadas a partir de fragmentos das entrevistas em que são abordados temas considerados centrais nas falas dessas mulheres, como a procura por abrigos, a participação em movimentos sociais, a violência e as estratégias de sobrevivência por elas adotadas. Além disso, a sobrevivência e o sonho são eixos temáticos que perpassam todos os temas tratados pelas entrevistadas e, por isso, também receberam destaque no trabalho. Considerou-se, ainda, que também estão atreladas ao sobreviver e ao sonhar as autodefinições construídas pelas mulheres entrevistadas em suas falas, as quais incorporam ou rejeitam representações frequentemente acionadas sobre feminilidade e sobre as pessoas que vivem em situação de rua.
Palavras-chave: Mulheres em situação de rua; Narrativas autobiográficas; Representações femininas