Resumo: Este trabalho propõe uma análise do romance La lenteur (1995), de Milan Kundera, sob o prisma de suas três dimensões: retórica, ideológica e estética. Para dar conta desta tarefa, e partindo do fato que a produção de estudos críticos sobre esta obra em particular é praticamente inexistente, somos levados a observar que a fortuna crítica do autor tem estudado seus romances segundo as prescrições dadas por ele mesmo em sua produção não-ficcional. Tais prescrições do autor resultam numa abordagem totalizante de sua obra que tem se imposto como forma única de interpretar seus textos de ficção. Dialogando com a crítica e analisando a forma como ela acata as recomendações do próprio Kundera, propomos lidar com a produção ensaística do escritor não pelo ângulo de suas eventuais concepções gerais de literatura, e sim enquanto deliberada construção de um projeto literário pessoal marcado por uma forte voz autoral a serviço da mistificação de sua figura. Tal voz é também colocada em ação no romance que tomamos como objeto de estudo, no qual um narrador em primeira pessoa confunde-se à imagem já cristalizada do autor e narra as histórias de suas personagens a partir de uma posição de distância e autoridade, exibindo uma visão de mundo baseada numa negatividade que recusa valores contemporâneos e prega o retorno a valores de um passado idealizado. A proeminência da voz autoral kunderiana que assombra o cronotopo romanesco de La lenteur passa a ser, neste sentido, o ponto de partida de nossa interpretação de todas as instâncias constitutivas deste romance. Assim, nosso trabalho assume-se como um exercício de crítica para buscar as perguntas e as respostas que o texto kunderiano, exemplificado no romance de 1995, pode suscitar em seu leitor.
Palavras-chave: Kundera, Milan, 1929-. La lenteur; Ficção francesa; Narrativa escrita; Crítica literária