Resumo

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Na armadura de um soldado moderno : o antitestemunho nacional-conservador de Ernst von Salomon em 'Die Geächteten'

Bruno Mendes dos Santos

Orientador(a): Márcio Orlando Seligmann-Silva

Doutorado em Teoria e História Literária - 2019

Nro. chamada: TESE DIGITAL - Sa59n


Resumo:
No contexto da República de Weimar, emergiu um movimento político-cultural conhecido como Revolução Conservadora, formado principalmente por combatentes da Primeira Guerra Mundial que se sentiram traídos pela negociação política da rendição. Entre eles, figura Ernst von Salomon (1899-1973), jovem formado em escolas de cadetes, prussiano orgulhoso, fiel ao império (portanto antirrepublicano e antidemocrático), contrário tanto às ideologias de esquerda quanto aos valores burgueses. Após atuar nos Freikorps em diferentes frentes e participar da Organisation Consul, movimento conspiratório contra membros do governo vigente (inclusive no assassinato do então ministro Walter Rathenau, motivo pelo qual foi preso), registrou suas experiências no romance autobiográfico Die Geächteten (1929). Ao contrário de soldados que deram seu testemunho dos horrores da guerra a fim de denunciar a barbárie dos campos de batalha e da destruição em massa, Salomon procura ressaltar o heroísmo e a luta nacionalista pela restauração do império ou, pelo menos, pela desestruturação do sistema democrático. Como a maioria dos veteranos de guerra, acumulou experiências potencialmente traumáticas, como a violência extrema da guerra de trincheiras, as mortes de companheiros ou o choque de cenas fortemente abjetas. No entanto, ele não escreve como um traumatizado, como se verifica na literatura de testemunho: pelo contrário, ele cria uma narrativa pouco subjetiva e não fragmentada; procura apresentar uma memória totalizante e detalhista, porém sem distanciamento; não demonstra vulnerabilidade e não se coloca em dúvida. Procura dar conta do real objetivamente e utiliza recursos estéticos literários, e não menciona dificuldades na representação simbólica dos eventos narrados. Como observador (testis) e sobrevivente (superstes), fala dos mortos de uma maneira “apatética”, sem emoções. Trata-se, portanto, de uma espécie de “antitestemunho” dos eventos traumáticos que experienciou. Essa característica pode ser atribuída ao corpo de Panzer: uma armadura (ou couraça), uma blindagem psíquica que, por um lado, torna o indivíduo mais resistente à dor, mas, por outro, gera uma cisão interna que o separa do universo externo, bloqueando a sensibilidade a qualquer estímulo que contrarie sua visão de mundo, e organiza seu inconsciente de modo a exercer uma postura dominadora sobre as categorias que considera inferiores ou incapazes, como forma de manter intacta a sua estrutura interna. Tal armadura não permite que ele se expresse de forma subjetiva ou sentimental, pois isso poderia desagregar o seu Eu e destruí-lo.

Palavras-chave: Salomon, Ernst von, 1902-1972; Testemunho; República de Weimar, 1918-1933; Freikorps.

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