Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo geral identificar e investigar quais são e como atuam as regularidades linguísticas, pragmáticas e discursivas envolvidas no cálculo metafórico realizado para interpretar a metaforicidade em expressões metafóricas por afásicos e pessoas com Doença de Alzheimer. Temos por base uma perspectiva teórico-metodológica sociocognitiva de cunho interacionista (MORATO, 1996; 2011; KOCH; CUNHA-LIMA, 2011) e a concepção de que a metaforicidade, fundamental à cognição (LAKOFF; JOHNSON, 1980), é linguística, sociocognitiva e pragmática, emergindo no discurso, em situações de interação, nas quais a interpretação é negociada e construída conjuntamente pelos falantes (CAMERON, 2007). O corpus é constituído pela transcrição de trechos relativos aos procedimentos de i) explicações de sentidos e ii) indicação de situações de uso de provérbios, idiomáticos e metáforas, constantes no Protocolo de Expressões Metafóricas, fornecidas por pessoas com afasia, Doença de Alzheimer e por participantes sem comprometimento neuropsicolinguístico, que constituem o grupo Controle. As análises desenvolvidas são qualitativas e comparativas, considerando variáveis que abrangem: i) as configurações linguístico-cognitivas das expressões e os procedimentos que constituem o Protocolo; ii) as respostas interpretativas atribuídas pelos participantes ao Protocolo; e iii) as características bem como especificidades das interações desenvolvidas entre a pesquisadora e os indivíduos nas entrevistas. Os nossos resultados sugerem a emergência de regularidades quanto às expressões metafóricas que compõem o Protocolo – grau de idiomaticidade, grau de metaforicidade, ambiguidade/não ambiguidade, explicitude/implicitude do tópico e veículo, grau de transparência e nível de composicionalidade – e com relação às respostas atribuídas pelos participantes – familiaridade, contexto, formulaicidade, co-construção de significados, processos inferenciais e processos meta. Essas regularidades atuam com ênfases variadas nos diferentes tipos de expressões metafóricas e quanto ao desempenho interpretativo dos participantes dos grupos. Embora o grupo Controle tenha fornecido um maior número de respostas centralmente relevantes às expressões metafóricas do que os grupos clínicos, os nossos dados indicam que as alterações metalinguísticas que incidem sobre as afasias e as instabilidades neurocognitivas que caracterizam a Doença de Alzheimer não impossibilitam o funcionamento dos diversos processos linguísticos, pragmáticos e discursivos atinentes à interpretação metafórica.
Palavras-chave: Afasia; Alzheimer, Doença de; Metáfora; Provérbios.