Resumo

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Entre espaços, sujeitos e línguas : a produção da fronteira em Dionísio Cerqueira-SC, Barracão-PR (Brasil) e Bernardo de Irigoyen (Misiones, Argentina) nos relatos de viagens

Marilene Aparecida Lemos

Orientador(a): Carolina Maria Rodríguez Zuccolillo

Doutorado em Linguística - 2019

Nro. chamada: TESE DIGITAL - L544e


Resumo:
Nesta pesquisa, partimos do pressuposto de que na fronteira entre Dionísio Cerqueira-SC, Barracão-PR (Brasil) e Bernardo de Irigoyen (Misiones, Argentina) há uma divisão estabelecida entre os Estados (inter)nacionais que se opera por meio de leis e tratados, por decisões político-jurídicas, mas também e indissociavelmente, por processos simbólicos que participam de sua constituição. Nessa perspectiva, temos como objeto de pesquisa compreender discursivamente a constituição do espaço de fronteira e de suas divisões; ou seja, como as fronteiras políticas e territoriais são produzidas pelo discurso. Assim, a partir da Análise do Discurso (AD), em particular, de pesquisas relacionadas com a área Saber Urbano e Linguagem, e da História das Ideias Linguísticas (HIL), objetivamos investigar os processos de espacialização, de produção de um espaço particular, que é o espaço de fronteira entre dois estados do Brasil e entre Brasil e Argentina, num processo indissociável da constituição dos sujeitos e das línguas. Partimos, para tanto, da analise de duas obras (relatos de viagens): Pela fronteira (1903), de Domingos Nascimento, e A viagem de 1929: Oeste de Santa Catarina: documentos e leituras, organizada pelo Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina – CEOM, que se compõe de dois relatos. As análises permitem observar que os relatos convergem em certos pontos: significam o espaço de fronteira como um espaço vazio, mostram a necessidade de “civilização” do povoado Dionísio Cerqueira pela presença do Estado através da instauração da cidade, ao mesmo tempo em que promovem a identificação dos sujeitos e do espaço fronteiriço ao Estado, por meio de suas instituições. No primeiro relato esses processos estão sustentados pelo exército e, nos outros dois, contidos na obra organizada pelo CEOM, pela estrutura jurídico-administrativa do governo do estado de Santa Catarina. Tendo em vista a instauração do Estado/nação no espaço de fronteira, apreendemos um discurso que participa da produção da fronteira político-territorial, pelo viés do Estado, ou seja, fica evidenciada nos relatos a “linha divisória” que é “fixada” entre os Estados (inter)nacionais por meio de decisões político-jurídicas e pelos processos de identificação produzidos pelos discursos. Ademais, a divisão/fronteira não é somente do espaço, mas constitui ao mesmo tempo uma divisão/fronteira das línguas e dos sujeitos (brasileiros/argentinos), numa relação dissimétrica, hierarquizada. Por fim, o espaço de fronteira, de nossa perspectiva, um espaço fluido não significado por um imaginário de unidade, produz sentidos de um deslimite e, assim como os sujeitos, significa-se na movência dos pertencimentos, num desenganche ou delinking; mostrando-nos que embora não haja uma coincidência entre uma fronteira “traçada” e outra fronteira “vivida” socialmente, o processo de produção do espaço de fronteira não se dá apenas como um gesto político-jurídico, mas como um processo de produção de sentidos e sujeitos.

Palavras-chave: Fronteiras; Divisões territoriais e administrativas; Sujeito (Filosofia); Linguagem e línguas.

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