Resumo

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O engenheiro esfarelado : o processo criativo em Notas sobre uma possível A casa de farinha, de João Cabral de Melo Neto

Gislaine Goulart dos Santos

Orientador(a): Cristina Henrique da Costa

Doutorado em Teoria e História Literária - 2019

Nro. chamada: TESE DIGITAL - Sa59e


Resumo:
Em meados de 1980, João Cabral de Melo Neto entregou a sua filha Inez Cabral um pequeno fichário escolar com o manuscrito de um poema-livro inédito sobre a casa de farinha, escrito no período de 11 de setembro de 1966 a 5 de novembro de 1985. Notas sobre uma possível A casa de farinha (2013) se referem às 56 folhas com programação roteirizada (planos, notas, fichamentos de leitura e rascunhos dos versos iniciais), a qual nos possibilita ler, no fac-símile, a imprevisibilidade do processo criativo de João Cabral. Para representar a saga anônima de carregadores, raladoras, raspadoras, prensador, quebrador e o processo de modernização das casas de farinha, o poeta escolheu o auto, forma dramática mais próxima do poema, da cultura popular e da voz dos trabalhadores. Isto porque, a casa de farinha é um espaço que simboliza a cultura oral e artesanal; com a modernização, esta tradição artesanal será substituída por máquinas; forma de produção incapaz de dá à farinha a marca humana. Ao ser publicado, as Notas sobre uma possível A casa de farinha permitem um leitor. A leitura deste material, na tese, tem início com a crítica da transcrição publicada em 2013; a transcrição diplomática que mostra a imprevisibilidade do processo criativo de escrita; a reorganização dos manuscritos que correlaciona a pesquisa documental e os esboços de ideias. Até uma leitura mais aberta: ler os fichamentos de leitura de João Cabral que embasam a reflexão ética e poética do poeta; a voz dos trabalhadores da casa de farinha na escrita dos primeiros versos; a presença da dualidade (tradicional e moderno; otimismo e pessimismo) nos livros cabralinos que nos possibilita ler do livro publicado ao manuscrito e do manuscrito ao livro publicado. Neste percurso de leitura dos manuscritos, verificamos que o pensamento de João Cabral não se reduz à lógica que toma a linguagem em seu caráter formal; na escrita deste auto, há um processo crítico-reflexivo do mundo que envolve subjetividade, percepção, imaginação, pesquisa documental e questões éticas do poeta, por isso, é impossível realizar uma leitura estrutural e fechada d’A casa de farinha e, consequentemente, de outros poemas. A racionalidade estética na obra cabralina está presente na escolha da forma (o auto), do tema (modernização das casas de farinha) e na escrita do ritmo da voz dos trabalhadores, mas trata-se de uma criação subordinada à comunicação, por isso, o poeta usa a linguagem comum para escrever sobre os temas da vida dos homens e refletir sobre os problemas socioeconômicos do povo nordestino, originários de um mal obscuro. Este trabalho, de certa forma, é uma revisão da ideia de racionalidade atribuída à obra cabralina por uma tradição crítica que influenciou leituras posteriores dos livros do poeta.

Palavras-chave: Melo Neto, João Cabral de, 1920-1999 - Crítica e interpretação; Poesia brasileira; Estética na literatura.

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