Resumo

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Os lugares da concordância nas construções-Q

Flávia Orci Fernandes

Orientador(a): Ataliba Teixeira de Castilho

Doutorado em Linguística - 2019

Nro. chamada: TESE DIGITAL - F391L


Resumo:
O principal objetivo desta pesquisa é investigar o comportamento diacrônico da concordância nas construções-Q, à luz da abordagem multissistêmica da língua, conforme Castilho (2010), focalizando as relações de compartilhamento de traços de número, gênero e pessoa estabelecidas nas orações adjetivas, nas orações interrogativas, nas orações exclamativas e nas orações substantivas, todas iniciadas pelos itens “que” e “ques”. Como corpora de análise, foram utilizados dados provenientes do corpus mínimo do Projeto Para a História do Português Brasileiro. Deste, foram coletadas amostras de língua escrita (séculos XVIII a XX) e também foi utilizado um corpus diferencial, proveniente dos Projetos NURC e Iboruna (língua falada dos séculos XX e XXI), além de dados da rede social Twitter. Em língua portuguesa, a concordância é um fenômeno estabelecido por diferentes processos, todos os quais envolvem os quatro sistemas da língua: a gramática, a semântica, o léxico e o discurso, mas é manifestada pela gramática, uma vez que a identificação de traços de concordância se dá por meio de morfemas. Com relação a esses processos, a abordagem multissistêmica considera que há três tipos de concordância: plena (CP), em que há identificação de traços de número e de gênero entre dois termos, chamados X e Y; zero (CØ), em que desaparece a recursão de traços entre os elementos X e Y, e por reanálise (CR), em que o termo X expressa traços de um constituinte periférico Y (CASTILHO et al, 2019). Outro tipo de inovação quanto às regras de concordância no PB se refere ao aparecimento de marcas de número em palavras tipicamente invariáveis, resultando, por exemplo, na forma ques. Os resultados gerais apontam para o fato de que há CØ entre o sujeito e o verbo da oração adjetiva quando há utilização de um verbo apresentacional do tipo “ter” na oração principal, como em “tem duas escadas que é pra subí(r)... pra sala de aula”. Em relação à palavra ques, foram identificadas a CP e a CØ. A hipótese para o surgimento desse tipo de elemento se baseia no fato de que há uma tendência à marcação de plural na primeira posição das orações. Esse comportamento resulta em construções do tipo “ques outras séries você vê?”, “Tem 3 filmes ques eu quero assistir no cinema” e “A Globalsat diz ques está trabalhando, mas ficar sem sinal no final de semana é dose”. Ainda, os dados mostram haver um processo de desnucleação das expressões, em que o especificador está assumindo funções do núcleo e, em razão da flutuação da marcação de plural em itens tipicamente invariáveis, os lugares da concordância no português brasileiro têm passado por alterações tanto do ponto de vista da forma quanto do ponto de vista da função. O estudo dos lugares da concordância mostra que as construções analisadas fazem parte de um processo maior de mudança, em que formas plurais/variáveis surgem para equilibrar esse sistema, que vem, supostamente, perdendo formas. Por fim, os lugares da concordância nas construções-Q, apesar de inovadores, podem ter raízes latinas e, portanto, não podemos considerá-los novos lugares.

Palavras-chave: Língua portuguesa - concordâncias; Gramática comparada e geral - Sintaxe; Língua portuguesa - Orações subordinadas; Gramática comparada e geral - Determinantes.

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