Resumo

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Uma poética da Ninfa : aparições na poesia brasileira moderna e contemporânea

Maura Voltarelli Roque

Orientador(a): Eduardo Sterzi de Carvalho Júnior

Doutorado em Teoria e História Literária - 2019

Nro. chamada: TESE DIGITAL - R685p


Resumo:
Este trabalho tem como objetivo pensar as figurações da Ninfa na poesia moderna e contemporânea brasileira. Estudada por nomes como Giorgio Agamben, Georges Didi-Huberman e Aby Warburg, a Ninfa é, antes de tudo, um personagem teórico que encarna ou representa os conceitos fundamentais formulados pelo historiador da arte alemão Aby Warburg. Entre eles, estão a ideia de Pathosformel (fórmula de pathos) e a de Nachleben, a vida póstuma das imagens, pensada por Warburg a partir da sobrevivência dos gestos da antiguidade ao longo da cultura ocidental e expressa em um dos seus projetos principais, o atlas de imagens que ele chamou “Mnemosyne”. A partir da complexidade estética e temporal de uma imagem como a da Ninfa, buscamos pensar o quanto essa figura mítica desarranja as narrativas usuais da história da literatura moderna brasileira, nos permitindo ver vínculos insuspeitados entre os momentos moderno e contemporâneo, de um lado, e momentos anteriores, sobretudo aquele período que ficou conhecido, por falta de nome melhor, como “pré-modernismo”. Ou seja, ali onde os historiadores literários marcados pelo discurso do modernismo veem (ou esperam ver) sobretudo rupturas (entre a cultura literária do século XIX - que talvez possamos chamar uma cultura literária fin de siècle - e a do século XX), podemos ver antes reaparições, continuidades intermitentes, enlaces de tempos, que apontam para uma historiografia poética menos linear e mais sintomática. A Ninfa nos propõe, neste sentido, um modelo trans-histórico que implode os muros, os esquemas, os estilos, as identidades. No lugar de obras bem resolvidas, acabadas em si mesmas, propomos compreender obras como a de Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, e, em direção ao momento contemporâneo, obras como a de Donizete Galvão e Carlito Azevedo, como obras complexas, errantes, convulsivas, que perturbam o tempo cronológico e criam uma outra temporalidade feita de anacronismos e sobrevivências. Vale ainda dizer que o que chamamos uma cultura literária fin de siècle é recuperada neste trabalho por reconhecermos no art nouveau e em sua estética do desejo o momento no qual a Ninfa, entendida enquanto forma feminina em movimento, acorre novamente à superfície, chegando ao início do século XX como uma forma sobrevivente do passado e, ao mesmo tempo, um índice histórico de sua época. A presença sintomática da Ninfa na poesia brasileira também nos permite pensar o quanto essa imagem ambígua, inapreensível, que se constitui de uma montagem e uma tensão de potências opostas, sendo ao mesmo tempo evanescente e corpórea, inocente e mortífera, impassível e erótica, tem a nos dizer sobre as próprias tensões que atravessam nossa historiografia poética. Da mesma forma, enquanto “imagem sobrevivente” que não cessa de fluir e refluir, encenando inúmeras metamorfoses (serva florentina, Salomé dançante, anjo protetor, mênade delirante, Vitória romana, Vênus impassível), a Ninfa encarna em si mesma a capacidade da poesia em resistir e reinventar-se nessa época hostil; em ser, como a Ninfa, aquela que vive depois de morta, uma espécie de fantasma do tempo.

Palavras-chave: Ninfas (Divindades gregas) na literatura; Poesia brasileira - História e crítica; Crítica; Imagem (Filosofia).

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