Resumo

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Definir/conceituar : história e sentidos da palavra-conceito cultura em dicionários de línguas e de terminologias

Felipe Augusto Santana do Nascimento

Orientador(a): Carolina Maria Rodríguez Zuccolillo

Doutorado em Linguística - 2019

Nro. chamada: TESE DIGITAL - N17d


Resumo:
A palavra cultura é apontada por estudiosos das Ciências Sociais e Humanas como uma das palavras mais importantes para compreender a história das sociedades ocidentais e como sendo uma das mais “complexas” e “difíceis” de serem definidas (WILLIAMS, 1989; EAGLETON, 2005; CUCHE, 2002). O dizer da “dificuldade” e da “complexidade” em torno da definição de cultura é uma regularidade nos trabalhos acadêmico-científicos sobre a história dessa palavra, cuja definição teria se tornado ainda mais “complexa” devido ao seu “sinônimo próximo” civilização (KROEBER, KLUCHOHN, 1952) e à disciplinarização da cultura, que se tornou um conceito de diferentes áreas científicas a partir do século XIX. Situados, então, na Análise de Discurso em articulação com a História das Ideias Linguísticas, que compreende os dicionários como instrumentos linguísticos (AUROUX, 2009) e objetos históricos e discursivos (NUNES, 2006; ORLANDI, 2013), analisamos as definições dos verbetes cultura e civilização nos dicionários de línguas e de terminologias, que no imaginário social funcionam discursivamente como aqueles que definem/conceituam as palavras e os conceitos, para compreender os processos discursivos em jogo no processo de definição da palavra-conceito cultura. Ao analisarmos as definições do verbete cultura e de seu “sinônimo próximo” civilização em dicionários de língua francesa dos séculos XVII ao XXI, língua apontada pelos estudiosos como fundamental para a compreensão da palavra cultura (FEBVRE, 1930; BÉNÉTON, 1975; CUCHE, 2002; EAGLETON, 2005); em dicionários de língua portuguesa/brasileira dos séculos XVIII ao XXI; e em dicionários de terminologias – Ciências Sociais e Humanas e Linguística dos séculos XX e XXI – pudemos compreender os efeitos políticos dos sentidos de cultura e como eles significam/hierarquizam sujeitos, sociedades e seus espaços ao estabelecer relações de força que se sustentam no “argumento” cultura. Ao funcionar como um objeto “neutro” e “natural” pelo apagamento do político e do ideológico, a palavra-conceito cultura é sintomática de que sujeitos e espaços são significados num mesmo processo histórico-político de significação que se marca na textualidade específica da definição pela passagem do sentido “literal” de cultura enquanto “cultivo da terra” (espaço) para o sentido “abstrato” de cultura enquanto “cultivo do espírito” (sujeito), o que indica que a constituição de sujeitos/sentidos/espaço se dá num mesmo processo histórico político (RODRÍGUEZ-ALCALÁ, 2011a; 2018). Por fim, chegamos à conclusão de que as definições de cultura apontam para o fato de que essa forma linguística na sua relação de aproximação, oposição, subordinação e contradição com a forma linguística civilização atualiza uma “memória ocidental” que significa e hierarquiza as “formas de vida” ao produzir um espaço-tempo imaginário, no qual as diferentes sociedades são classificadas e hierarquizadas em diferentes estágios no tempo a partir de um modelo baseado no espaço da cidade (RODRÍGUEZ-ALCALÁ, 2018), funcionando como uma “palavra-sintoma” na/da história das sociedades ocidentais.

Palavras-chave: Cultura (A palavra); Civilização (A palavra); Análise do discurso; Lexicografia; Linguagem e línguas - Dicionários; Ciências sociais - Terminologia; Linguística - Terminologia.

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