Resumo

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Origem e formação do português brasileiro : uma querela histórica

Felipe dos Santos

Orientador(a): Emilio Gozze Pagotto

Mestrado em Linguística - 2019

Nro. chamada: TESE DIGITAL - Sa59o


Resumo:
Mais de um século após Adolpho Coelho afirmar que o Português Brasileiro (PB) compartilhava certas características com dialetos crioulos, o debate sobre a sua origem e formação continua vivo, configurando-se como uma das mais longas e profícuas discussões na Linguística brasileira. Varejão (2009) buscou sintetizar a trajetória dos estudos em torno da diferenciação do PB em relação ao Português Europeu (PE) a partir dos seguintes recortes discursivos: i) discurso impressionista: cujas formulações se estabeleceram sob a polarização entre os puristas e os nacionalistas linguísticos (i.e., a polêmica entre Pinheiro Chagas e José de Alencar); e ii) discurso científico: que estaria isento de paixões normativistas, levando adiante pesquisas metodologicamente rigorosas, visando refutar ou confirmar hipóteses sobre a estrutura do PB. Assim, se inicialmente a discussão tinha como motivação uma questão identitária – trazendo a independência brasileira em relação a Portugal para o âmbito da língua –, com o desenvolvimento da linguística brasileira, o assunto vai tomando ares cada vez mais técnico, embora ainda cercado de polêmicas. As análises comparativas entre o PB e o PE desempenharam um importante papel nesse debate; tendo o foco, a princípio, voltado aos “brasileirismos” no nível lexical – incluindo empréstimos lexicais junto às línguas ameríndias e africanas. Posteriormente, o contato linguístico durante a colonização do Novo Mundo foi retomado e apontado como o principal fator da diferenciação entre as línguas faladas aqui e em Portugal. É precisamente sobre o contato linguístico que vai se apoiar a hipótese crioulista, segundo a qual o PB não só compartilha características com línguas crioulas (como afirmou Coelho), mas também faria parte desse conjunto linguístico. Mais recentemente, esta hipótese enfrentou um relativo enfraquecimento em função tanto das evidências empíricas dos dados linguísticos e históricos quanto da confusão dentro da Crioulística relacionada ao conceito de língua crioula, sobre o qual não há ainda uma definição consensual. O estado atual desse debate secular opõe principalmente os estudos de Lucchesi, Baxter e Ribeiro (2009) – que abandonam o rótulo de “língua crioula” para o PB sem, contudo, renunciar ao processo de crioulização, essencial no conceito/modelo de transmissão linguística irregular – com os de Naro e Scherre (2007), para quem os fenômenos atestados como evidências de uma crioulização do PB estariam presentes já em dialetos portugueses do período arcaico. Dito isto, este projeto de pesquisa objetiva demonstrar: (i) que o debate sobre o estatuto da língua portuguesa falada no Brasil sofre não só com as polêmicas ideológicas, mas também com a indefinição na Crioulística relacionada aos seus conceitos-chave e à interpretação das línguas pidgin e crioulas como entidades linguísticas cujos traços estruturais são distintivos, com a suposição de que os fenômenos de mudança presente em tais línguas são exclusivos; (ii) que outras fontes de pesquisas históricas no Brasil permitem interpretações diversas sobre o processo de formação e desenvolvimento do país, permitindo também outras interpretações sobre a evolução do PB; e (iii) que estas pesquisas históricas são fundamentais para compreender o processo de dialetação do PB, fazendo com as referidas hipóteses teleológicas sejam insatisfatórias.

Palavras-chave: Linguística histórica; Língua portuguesa - Brasil; Linguagem e línguas - Origem; Dialetos crioulos.

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