Resumo

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Frankenstein e a construção de um mito moderno : manufaturando monstros a partir de corpos subjugados

Thiago Leonello Andreuzzi

Orientador(a): Mário Luiz Frungillo

Mestrado em Teoria e História Literária - 2019

Nro. chamada: TESE DIGITAL - An25f


Resumo:
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. “Monstro” encontra definições em diferentes épocas, desde Aristóteles, que o definia por oposição à norma da natureza, o excepcional – um desvio na curva da fisionomia dos seres, um acontecimento isolado e único. Todavia, expandindo o sentido aristotélico, “monstro define-se, em primeiro lugar, em oposição à humanidade” (NAZÁRIO, 1998, p.11), deparamo-nos com consequências morais e/ou sociais. É o caso d’Os Anormais (2002), de Foucault, em que o filósofo aponta na palavra “anormal” outras características como as mentais e comportamentais destoantes do padrão, chegando a identifica-lo com o termo “monstro”. O aspecto excepcional do monstro se reflete de forma direta na criatura de Frankenstein: sozinha no mundo, identifica-se com o Adão e com o Satã de Milton. Solitária, ela se enquadra na definição aristotélica: desproporcional, desafia a própria feição do “homem universal”. Porém, não é criação da natureza: temos um monstro artificial à semelhança de seu criador, o que lança uma nova luz à estrutura narrativa do Gótico. O fantasma, lembrança de um passado violento, porém preso a uma narrativa familiar (The Castle of Otranto), abre espaço para o monstro da abjeção (HOGLE, 2004 apud KRISTEVA, 1982), trazendo o medo para mais próximo das ansiedades causadas pela crescente industrialização e as revoluções dos séculos XVIII e XIX, em especial a Revolução Francesa (PAULSON, 2004). Some-se a isso o crescente contato com o Outro e a subsequente crise do Eu e encontramos no século XIX uma miríade de monstros cuja principal característica é a diferença em relação à Europa Ocidental protestante. A criatura de Frankenstein é, nesse sentido, o pontapé inicial nessa nova tradição, uma vez que é artificial ao mesmo tempo que um corpo subjugado, além de moralmente duvidosa. Vista com horror desde o início de sua vida – quando seu criador a contempla pela primeira vez, se apavora e se arrepende, caindo em uma depressão profunda –, é uma metáfora cruel para a genialidade e criatividade romântica. Ver o monstro, produto original (e possível molde) de um indivíduo excepcional (Frankenstein) faz com que as pessoas tremam e fujam ou queiram destruí-lo, pois ele concentra em si um caráter único, marcado pela transgressão do que se considera “natural”. Vai além: invoca o horror no seu sentido mais físico, a mácula da carne e a bricolagem dos corpos. Temos um construto orgânico e superpotente: um problema narrativo e social, uma figura insólita – sobretudo por estar à margem. Frankenstein foi capaz de dar vida ao que não era nem mesmo um (único) corpo, afirmando seu papel de criador. Contudo, esse papel é incompleto, pois Victor nega ao monstro a qualidade de se constituir enquanto espécie: ao invés de um “crescei e multiplicai-vos”, Victor condena sua criatura primeiramente ao esquecimento e, depois, à destruição. Essas condições fazem com que a criatura discuta com o seu criador a sua própria condição enquanto ser vivo: nasce monstro ou torna-se monstro? Uma contrafação (counterfeit) humana – de onde se deriva o insólito do romance – a criatura é qualquer coisa que se assemelhe a seu criador, menos humana. Disforme, desproporcional, orgânica, um “pecado” de Frankenstein, que desafia a natureza para criar algo para além dela, resulta fisionomicamente em um monstro. A aparência se mostra aqui mais que presente – em seu discurso a criatura é tão humana quanto nós; Não obstante, sua aparência vai condená-la até o dia em que supostamente se suicida no ártico. Ser artificial, fruto de um desenvolvimento científico sem ponderação sobre suas consequências, resultou em efeitos danosos para os indivíduos. Também, o termo “Frankenstein”, referindo-se ao monstro, é comumente atribuído àquilo que desafia a natureza como o establishment a entende – o nome é atribuído àqueles que desafiam as noções postas de gênero, por exemplo, por sua relação transgressora com as identidades masculina e feminina. Através, então, da figura do monstro, buscamos compreender a formação do monstro como um outsider e a apropriação de sua figura por um discurso estabelecido (ELIAS, 2000).

Palavras-chave: Ficção gótica (Gênero literário); Literatura e sociedade; Literatura inglesa; Romantismo; Monstros na literatura.

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