Resumo: O chamado “impasse” em O Inominável remete a um momento de perturbação da trajetória literária de Samuel Beckett. As cartas e confissões do autor demonstram que após esse livro ele se viu na mesma encruzilhada de seu narrador, sem saber como continuar, devendo ainda continuar. Não por acaso este trabalho é seu último texto em prosa mais longo. Em vez de analisar esse episódio por um viés biográfico, o desenvolvimento dessa tese permite pensar esse impasse como um impedimento do próprio romance na sociedade do pós-guerra. Nesse sentido, suas questões iniciais – onde agora? quando agora? quem agora? – expõem a necessidade de pensar novas estruturas da prosa romanesca, que sejam capazes de representar a nova ordem do capitalismo administrado. Ao mesmo tempo em que o impasse aponta para os limites do romance, especificamente redefinindo sua relação com o realismo formal, ele também projeta uma nova potencialidade do gênero, resgatando seu desenvolvimento histórico marginal. A condição de O Inominável é assim ambivalente: é um romance do pós-guerra, mas também um romance verdadeiro ou um romance verdadeiro por se configurar como um romance do pós-guerra.
Palavras-chave: Beckett, Samuel, 1906-1989; Guerra e literatura; Ficção - História e crítica.