Resumo

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Línguas, identidades culturais, migrações e narrativas : um estudo sobre falantes de árabe em Foz do Iguaçu

Samira Abdel Jalil

Orientador(a): Terezinha de Jesus Machado Maher

Doutorado em Linguística Aplicada - 2018

Nro. chamada: TESE DIGITAL - J216L


Resumo:
Considerando o contexto de migrações transnacionais e suas implicações socioculturais, esta tese tem por objetivo apresentar e discutir os resultados de uma pesquisa desenvolvida com o intuito de analisar discursos sobre identidades construídos por falantes de árabe em Foz do Iguaçu, bem como a maneira como essa língua é evocada em suas narrativas. Participaram do estudo dez brasileiros (natos ou não) residentes na cidade e que pelo menos um de seus progenitores era oriundo de país de língua árabe. Inserida na vertente crítica da Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006; PENNYCOOK, 2006), a pesquisa em pauta, de natureza qualitativa-interpretativista, orientou-se pelos preceitos da etnografia crítica (MARTIN-JONES; MARTIN, 2017). O arcabouço teórico de referência para este trabalho incluiu contribuições de estudiosos da área das Ciências Sociais (BHABHA, 1998; HALL, 1997, 2000) e dos Estudos de Narrativas (DE FINA; GEORGAKOPOULOU, 2012; NIC CRAITH, 2012). A análise de dados, conduzida a partir dos posicionamentos interacionais dos participantes (DAVIES; HARRÉ, 1990; LANGENHOVE; HARRÉ, 1999) e das pistas contextualizadoras de Wortham (2001) e Bizon (2013), foi realizada a partir de três eixos temáticos: (i) a história familiar de migração dos participantes; (ii) as suas construções identitárias e (iii) as representações por eles construídas acerca da língua árabe.Com relação às histórias e percepções sobre o movimento migratório, os posicionamentos dos participantes indicaram consonância com as condições de reterritorialização do universo de falantes de árabe no Brasil. Apesar da existência de uma rede de apoio local consolidada, notou-se a representação de uma imagem geralmente negativa do empreendimento migratório no estabelecimento no Brasil. Porém, pode-se perceber que a resiliência em meio a esse processo foi pedra fundamental da reconstrução da vida e das identidades desses migrantes, mesmo daqueles que se identificaram como vivendo um entrelugar (BHABHA, 1998). Ademais, os participantes apontaram as relações com o entorno como sendo frutíferas e marcadas pela gratidão pelo acolhimento recebido, com exceção de alguns casos de discriminação, que reforçaram o tom de desvalia e preconceito que alguns afirmaram terem experimentado ao longo da reterritorialização das famílias. Sobre a maneira como os participantes evocam a língua árabe, esta foi representada como uma das marcas valorosas de sua herança cultural, o que é corroborado pelas políticas linguísticas comunitárias para a preservação da língua árabe na cidade. Diante do exposto, as narrativas indicaram que a preservação das memórias do movimento migratório e da língua árabe, reiteradas pela grande visibilidade das manifestações linguísticas e culturais em Foz do Iguaçu, foram e têm sido essenciais na construção e no fortalecimento deste grupo, bem como no sentimento de pertença desses migrantes e seus descendentes na Foz do Iguaçu diversa, plural e intercultural em que vivem. Contudo, recomenda-se aos educadores, cônscios da função preponderante que exercem na formação e no empoderamento dos indivíduos, que conheçam tanto o macrodiscurso hegemônico depreciativo de grupos minoritarizados (SAID, 2007) quanto as representações e posicionamentos referentes às construções identitárias de migrantes, para que assim possam ser multiplicadores de práticas discursivas e ações de fomento ao respeito à diversidade linguística e cultural constitutiva da sociedade brasileira.

Palavras-chave: Identidade cultural; Língua árabe - Árabe falado - Foz do Iguaçu; Narrativas; Migração.

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