Resumo: A corrupção pode ser considerada um dos fatores centrais para a explicação da crise de diversas democracias representativas não apenas como objeto do mundo, mas também de discurso. Isso porque, a despeito da inegável necessidade de transparência governamental, o personalismo e a partidarização que caracterizam a realidade discursiva formulada pelo campo midiático não têm contribuído para a compreensão da questão. Isto posto, o objetivo desta tese é identificar as cenas relacionadas à corrupção na produção discursiva de representantes da classe política brasileira, a fim de contribuir para a compreensão da perspectivização social sobre a temática, tendo em vista a intencionalidade coletiva (cf. TOMASELLO, 2014) e os conhecimentos que podem ser mais ou menos compartilhados e estáveis. Para isso, analisamos os frames de corrupção e outros frames a eles associados, bem como os processos referenciais que permitem sua emergência ou ativação (VEREZA, 2013) na fala dos candidatos à presidência da República do Brasil em 2014, nos debates eleitorais realizados durante o primeiro e o segundo turno. Os processos analisados, além de construírem o objeto de discurso “corrupção” e outros temas a ele relacionados, permitiram-nos observar a maior invocação ou formulação da experiência sobre corrupção psicossocialmente organizadas em frames, aspecto relacionado ao caráter, a um só tempo, conceptual e interativo da categoria em questão (MORATO, 2010; MORATO;BENTES, 2013; MORATO et al., 2017). Ademais, pudemos observar o caráter perspectivo dos frames (ENSINK; SAUER, 2003) sobre corrupção e o seu enfrentamento por meio da sua relação com modelos de governo associados ao espectro do campo político no qual os candidatos se inscrevem.

Palavras-chave: Frames (Linguística); Referência (Linguística); Debates de campanha eleitoral - Brasil; Corrupção na política.