Resumo

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A ordem de palavras no português medieval

Carolina Salgado Lacerda Medeiros

Orientador(a): Charlotte Marie Chambelland Galves

Doutorado em Linguística - 2018

Nro. chamada: TESE DIGITAL - M467s


Resumo:
Esta pesquisa tem como principal objetivo realizar uma análise descritiva do português medieval, período que vai do século 13 ao 15. Utilizando uma base de textos sintaticamente anotados, esperamos contribuir para a discussão acerca sintaxe das línguas V2, argumentando que esta é uma língua V2 flexível simétrica (cf. Wolfe 2015). A análise nos permitiu concluir que neste período V2 é a ordem linear mais frequente em todos os textos narrativos, em orações matrizes e encaixadas, sendo XV mais frequente no primeiro contexto e SV mais abundante nas orações subordinadas, corroborando os dados de Ribeiro (1995). São também produtivas ordens V1 e V>2 em ambos os contextos. Verificamos que o movimento do verbo para Fin, licenciando V2, ocorre nas orações matrizes e encaixadas, o que ficou evidente pelo fato de as mesmas posições sintáticas estarem disponíveis em ambos os contextos. Adotamos o modelo proposto em Galves (a sair) para a periferia esquerda do português medieval, lançando mão da categoria kP, uma posição que abriga pronomes demonstrativos fronteados e sujeitos pré-verbais, veiculando informação contrastada, e da posição FOC, para onde se movem sintagmas quantificados, advérbios focalizados e elementos com valor avaliativo. Para dar conta da simetria entre orações matrizes e subordinadas, propomos a inclusão da posição ForceP, onde são concatenados os complementizadores nas encaixadas. Em relação à interpolação, observamos que nas orações matrizes este é um fenômeno pouco recorrente. Além disso, no século 15 a interpolação é mais frequente com uma determinada classe de advérbios medievais tanto nas orações raízes quanto nas encaixadas, o que sugere que é neste século que ocorre uma mudança em relação ao tipo de elemento que pode ser interpolado. Conforme Magro (2007), concluímos que no português medieval a interpolação é regida por uma regra prosódica, o que é evidenciado pela possibilidade de o clítico estar interpolado entre dois advérbios focalizados que formam uma unidade sintagmática. Também observamos que nos dois contextos esse fenômeno está relacionado às posições FOC e kP, para onde se movem elementos com valor referencial. Além disso, também propomos uma comparação entre o português medieval e o português clássico. Ao contrastar dados dos dois períodos, verificamos que a mudança de gramáticas que resultou no desaparecimento do português medieval e no despontamento do português clássico pode ser pensada como um processo que se desdobra em vários aspectos sintáticos: (i) a mudança no status do complementizador, que no português medieval é concatenado em Force e no português clássico está em Fin; (ii) uma mudança na periferia esquerda, que envolve diferentes posições para onde se movem os sujeitos pré-verbais nas duas gramáticas; e (iii) o licenciamento da categoria kP, que no português medieval está ativa tanto nas orações subordinadas quanto nas raízes, mas no português clássico só está disponível nas orações matrizes. Ademais, também observamos que as mudanças sintáticas que foram objeto de estudo nesta pesquisa acompanharam temporalmente as mudanças morfofonológicas estudadas por Cardeira (2006), marcando a fronteira entre os séculos 14 e 15 como o momento em que uma nova gramática emerge.

Palavras-chave: Linguística histórica; Gramática gerativa; Língua portuguesa - Português antigo - Séc. XIII-XV; Língua portuguesa - Sintaxe.

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