Resumo

Versão para impressão
O cronista, o menino, o mentiroso e outros heróis : Graciliano Ramos e o Estado Novo

Edmar Monteiro Filho

Orientador(a): Alfredo Cesar Barbosa de Melo

Doutorado em Teoria e História Literária - 2018

Nro. chamada: TESE DIGITAL - M764c


Resumo:
Graciliano Ramos produziu uma expressiva parcela de sua obra entre 1937 e 1945, período que coincide com a vigência do Estado Novo no Brasil. Com exceção de Vidas Secas, publicado em 1938, poucos meses depois do golpe que levou Getúlio Vargas ao poder, e de Infância, lançado no apagar das luzes do regime ditatorial, esses escritos mereceram e ainda hoje merecem poucas atenções da crítica literária, que, em geral, considera esses textos como de menor qualidade. Em consequência, os estudos que abordaram as relações entre um dos mais importantes escritores da literatura brasileira e um momento de profundas transformações nos campos social e político no país restringiram-se tão somente à polêmica sobre as contribuições de Graciliano para o periódico varguista Cultura Política, ignorando aquilo que o escritor criou sob a influência da censura e das ideias em voga. A partir da análise de Histórias de Alexandre, A Terra dos Meninos Pelados, Pequena História da República, dos contos surgidos no período, dos capítulos de Infância, investigados cronologicamente, e das crônicas, especialmente os conjuntos versando sobre o cangaço, a literatura nordestina e os quadros publicados nas páginas de Cultura Política, é possível enriquecer a compreensão das escolhas literárias de Graciliano, principalmente no que diz respeito à opção preferencial pelos temas ligados à denúncia da precária realidade do sertão do Nordeste. Dentro dos limites permitidos pelo controle policial, o escritor criticou o descaso histórico para com sua região natal, bem como os erros de uma modernização incapaz de desfazer a gritante desigualdade entre o Nordeste empobrecido e o Sudeste industrializado. Nesse sentido, fez coro com antigos apelos da sociedade brasileira, assim como com a ideologia estadonovista e seus projetos de integração territorial e valorização da realidade nacional. Graciliano dirige ao sertão e ao sertanejo um olhar carregado de ambiguidades, mesclando compaixão e desconfiança, ternura e mágoa, revelando, sobretudo, uma profunda descrença quanto à capacidade de a região avançar rumo à modernidade sem a interferência de um Estado que promovesse a integração nacional e sem a tutela de uma classe ilustrada. A produção de Graciliano durante o Estado Novo revela um escritor profundamente tocado pela injustiça, personificada nas estruturas arcaicas do poder e numa ignorância ancestral, resistente aos avanços do progresso. Assim, ao denunciar um estado de coisas que clama por mudanças, o autor faz dessa importante parcela de sua obra uma profissão de fé no poder do conhecimento e da literatura como armas para promover a transformação da realidade.

Palavras-chave: Ramos, Graciliano, 1892-1953; Política e literatura - Basil; Brasil - História - Estado Novo, 1937-1945.

. Rua Sérgio Buarque de Holanda, no 571
Campinas - SP - Brasil
CEP 13083-859

...

IEL - Based on Education theme - Drupal Theme
Original Design by WeebPal.