Resumo: No campo da Linguística Aplicada, os estudos dos últimos anos na área de formação de professores de línguas no Brasil têm se constituído foco produtivo, tanto no que diz respeito à formação inicial (MATEUS, 2011; JORDÃO et al., 2013; MATEUS, EL KADRI & SILVA, 2013; MILLER, 2017) quanto à formação continuada (JORDÃO et al., 2011; SILVA & ARAGÃO, 2013; MONTE MÓR, 2014; GIL & SOUZA, 2016). Para pesquisadores como Miller (2014), nesse movimento de fortalecimento de práticas docentes estão presentes não só diferentes perspectivas teóricas como também a diversidade de práticas investigativas em variados contextos. Inserido nesse quadro de pesquisas, este trabalho tem como objetivo geral analisar e discutir como a agência docente (BIESTA & TEDDER, 2006, 2007; JORDÃO, 2013a; PRIESTLEY, BIESTA & ROBINSON, 2013, 2015; MARTIN & MORGAN, 2015; BIESTA, PRIESTLEY & ROBINSON, 2017) é construída e vivenciada nas aulas de língua inglesa (LI) do Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nesse contexto socioeducacional singular em termos de ampliação de acesso ao ensino superior no Brasil (ANDRADE, 2012; ANDRADE et al., 2012; KNOBEL, 2013, 2014), a pesquisa direciona-se para os professores em formação inicial (graduandos) e em formação continuada (graduados em Letras), em atuação na disciplina de LI do ProFIS. Como aporte teórico, adota-se a noção dialógica de agência de Emirbayer & Mische (1998), recontextualizando-a para a área educacional. Com apoio em Biesta & Tedder (2006, 2007), que apropriam-se do conceito de Emirbayer & Mische (1998), problematiza-se a agência docente como processo e não como algo a ser possuído. De forma complementar, também busca-se amparo nas discussões de Shields (2007), que salienta essa agência como vivência em que se faz reconhecer os limites e potencialidades em sala de aula. Para tanto, foi realizada uma pesquisa qualitativa (COHEN, MANION & MORRISON, 2007) de cunho etnográfico (ANDRÉ, 2012), com observação participante (MASON, 2002) e de bases interpretativas (DENZIN & LINCOLN, 2006) no segundo semestre de 2015. A geração de dados ocorreu durante as aulas teóricas e práticas e nos grupos focais a partir dos instrumentos adotados (diário de campo impresso, diário e questionário online, entrevistas e narrativas autobiográficas) e a análise foi operacionalizada pelas perguntas norteadoras. No decorrer da análise, foi possível perceber os discursos sobre a construção de conhecimento (COPE & KALANTZIS, 2000; KALANTZIS & COPE, 2012), a condição da LI como língua franca (SOUSA SANTOS, 2002a, 2007; JENKINS, 2007; MOITA LOPES, 2008b; JORDÃO, 2014) e os questionamentos sobre a formação docente (inicial e continuada). Por outro lado, esses discursos também foram ressignificados ao longo do semestre no qual ocorreu a geração dos dados, apontando a tensão entre visões autoritárias/hegemônicas e internamente persuasivas/não hegemônicas constituintes da agência docente. Finalmente, é importante salientar a vivência da agência docente e suas tensões, sobretudo, como pesquisadora e participante dessa investigação. Nesse processo freireano de “ler se lendo” (MENEZES DE SOUZA, 2011), analisar os meus discursos e ressignificá-los em meio às práticas docentes dos outros participantes corrobora o argumento de Cavalcanti (2013) sobre a necessidade de vivenciar o ensino.
Palavras-chave: Programa de Formação Interdisciplinar Superior; Linguística aplicada; Professores - Formação - Brasil; Língua inglesa.