Resumo

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A história do emprego de vírgula do português clássico ao português europeu moderno

Cynthia Tomoe Yano

Orientador(a): Charlotte Marie Chambelland Galves

Doutorado em Linguística - 2018

Nro. chamada: TESE DIGITAL - Y32h


Resumo:
O presente trabalho tem como objetivo analisar o funcionamento da vírgula na escrita do português europeu no período do século XVI ao século XIX, focalizando a análise do emprego de vírgula em dois tipos de construção: à direita do verbo, antes de oração completiva, e à esquerda do verbo, após sujeito e oração dependente em primeira posição. Além disso, busca-se também investigar os possíveis fatores que favoreceriam o uso da vírgula nesses contextos. Para tanto, foram utilizados dois corpora: um corpus composto por 24 textos, de autores nascidos entre o século XVI e o século XIX, havendo seis textos para cada período de século, e outro composto por 8 textos de autores nascidos entre o século XVI e XVIII, com uma versão original e uma versão modernizada para cada um. A partir da análise dos resultados alcançados, observou-se que houve uma mudança no emprego da vírgula no século XIX. Nos textos dos séculos XVI, XVII e XVIII, a vírgula era utilizada, com maior frequência, com a função de introduzir discursos relatados e para marcar ênfase e pausa depois de sujeitos e orações focalizados ou topicalizados e orações longas, auxiliando na organização e na leitura do texto escrito. Já nos textos do século XIX, a mudança no uso da vírgula parece ter ocorrido de forma distinta nos contextos analisados. À esquerda, o sinal continua a servir para marcar ênfase e pausa depois de sujeitos e orações com comprimento longo ou proeminência de foco ou tópico, embora nos casos com oração pré-verbal, o fator do comprimento deixou de ser relevante à colocação de vírgula, sendo o sinal empregado mais pelo fato de a oração ser adjunta. À direita, porém, a função de introduzir relatos se perdeu, devido ao fato de os autores terem passado a dar mais atenção à relação de complementaridade entre verbo e argumento, além de, nesse período, ter havido uma diferenciação mais clara entre os tipos de discurso relatado e o surgimento de novos sinais para representar esses tipos de construção. Isso indica que, até fins do século XVIII, as funções prosódica e discursiva eram mais predominantes no sistema de pontuação do português. Já a partir do século XIX, a função sintático-semântica passou a ser mais predominante à direita do verbo, por haver um vínculo mais forte, de dependência, entre verbo e argumento e, à esquerda, as funções prosódica e discursiva parecem ainda se fazerem mais presentes, pois, nessa posição, a vírgula serviria mais para indicar o papel discursivo dos sintagmas pré-verbais. Além disso, quanto aos possíveis fatores que teriam favorecido essa mudança, notou-se que a mudança no olhar dos gramáticos sobre a pontuação e, portanto, nas regras de uso dos sinais teria tido uma influência mais forte, uma vez que foi no período do século XIX que houve uma maior difusão dos preceitos do Iluminismo em Portugal e, com isso, uma maior preocupação por parte dos gramáticos com a sintaxe e a norma do português, que levou ao sistema de pontuação ser mais baseado em relações de dependência entre as partes da sentença. Outro fator que parece ter tido um papel na mudança no emprego da vírgula é a mudança na sintaxe do português, ocorrida no século XVIII, uma vez que, em construções VS seguidas de oração completiva, observa-se uma correlação entre a queda na incidência de vírgula antes da oração completiva e o fato de, no português europeu moderno, o verbo ter passado a ocupar uma posição mais baixa e o sujeito, com isso, não ser mais posposto. Com isso, nos textos oitocentistas os autores prefeririam não marcar mais a vírgula antes da oração completiva, pois não haveria mais esse sentimento de distanciamento e a oração não tenderia mais a formar um I independente, estando contida no mesmo contorno entoacional do verbo.

Palavras-chave: Língua Portuguesa - Pontuação; Vírgula; Língua Portuguesa - Sintaxe; Língua portuguesa - Versificação; Norma linguística.

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