Resumo

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Emmanuel Bove : mergulhando as penas nas trevas do presente

Paulo Serber Figueira de Mello

Orientador(a): Márcio Orlando Seligmann-Silva

Mestrado em Teoria e História Literária - 2018

Nro. chamada: TESE DIGITAL - M489e


Resumo:
Este trabalho tem como objetivo refletir sobre a obra do escritor francês Emmanuel Bove (1898-1945), e mais especificamente sobre “Meus amigos” (1924), "A morte de Dinah" (1927), "O pressentimento" (1935) e “A armadilha” (1945). Isto será feito mediante o entrecruzamento com breves análises históricas e incursões na biografia do autor (COUSSE; BITTON, 1994), para que se possa explorar e compreender um pouco da relação fraturada mantida por este com o tempo-espaço em que lhe foi dado viver. Por meio de aproximações com o conceito de “contemporâneo”, desenvolvido por Giorgio Agamben em O que é o contemporâneo?, a noção de “testemunho”, muito trabalhada por Márcio Seligmann-Silva, e a dita filosofia da história de Walter Benjamin, propõe-se perscrutar a exposição e a denúncia de momentos traumáticos e decisivos da história francesa em uma obra literária pouco conhecida, mas de valor inegável. Esta se erigiu em um período de fortes tensões e abalos, de rápidas transformações e violentos conflitos, que instabilizavam e ameaçavam muito do que sempre parecera eterno. Nesse cenário, um avolumado desassossego e uma reatividade afligida tomavam conta dos espaços de privilégio, acostumados à inércia protetiva da tradição. A Europa, a França, o campo literário francês, essas “comunidades imaginadas” voltadas à glória e à permanência, viam membros se elevarem em oposição ao que concebiam como intrusões, apropriações indevidas, mudanças nocivas: um temeroso declínio. Nas narrativas criadas por Bove, esse aferro cultural se afigura em toda sua disposição agressiva, através de diversas formas, encarnado nos espaços, pessoas e coisas, delimitando as relações entre elas. Por mais que os personagens, os enredos, os ambientes variem, uma constante aspereza e rigidez, um obstinado retesamento se contrapõe às suas tentativas de movimento. De ascendência estrangeira e origem pobre, as passagens de Emmanuel Bove pelos núcleos de sociabilidade burguesa deram-se amiúde parcialmente, o suficiente para inculcar-lhe desejos de inserção e reconhecimento no campo literário e entre as elites culturais, mas também o bastante para que sentisse pesadamente os seus limites e restrições. Nesse sentido, a ausência de um teto constante e seguro debaixo do qual abrigar-se, imagem última de sua míngua e desterro, tornada um tema em seus escritos, tem o poder de trazer ao seio da obra literária aquilo de que a cultura referendada usualmente nem trata ou então destrata, aquilo com que ninguém quer identificar-se: a exclusão e os detalhes tão significativos pelos quais ela se percebe. De suas posições oscilantes e desprotegidas, os personagens de Bove os registram e decodificam com verdadeira obsessão, como testemunhas das extremadas adversidades que acompanham o fraco, o pobre, o minoritário, em sua locomoção pela França atravessada por crises e conflitos.

Palavras-chave: Bove, Emmanuel, 1898-1945 - Crítica e interpretação; Ficção francesa - Séc. XX - História e crítica; Empatia na literatura; França - Política e governo - 1940-1945.

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