Resumo

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As diferenças entre o que se fala e o que se escreve no português do Brasil : a aquisição do clítico se indeterminador e apassivador

Lara Ribeiro Silva

Orientador(a): Ruth Elisabeth Vasconcellos Lopes

Co-orientador(a): Mary Aizawa Kato

Mestrado em Linguística - 2017

Nro. chamada: TESE DIGITAL - Si38d


Resumo:
A fim de explorar o tema da distância entre o que se fala e o que se escreve no Português Brasileiro (PB), Kato, Cyrino e Correa (2009) propõem que a instituição escolar recupera determinados traços estilísticos da gramática portuguesa do século XIX e os postula como gramaticais, sendo um desses fósseis gramaticais o clítico se nas funções de indeterminador e de apassivador. Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo investigar como se dá a aquisição desse clítico, principalmente por falantes letrados do PB. Pretende-se averiguar a hipótese de que a aquisição desse clítico para o PB se comporta tal como um item de uma língua estrangeira (L2), conforme proposto por Kato (2005). Para cumprir tal objetivo, foi traçado um breve panorama sobre os estudos realizados até o momento sobre a aquisição de L2 bem como sobre a natureza do se e seu percurso diacrônico. Esse último foi realizado com base nos estudos de Nunes (1990), no qual o autor estabelece o estatuto teórico das construções que envolvem o se, apassivador e indeterminador, dentro do quadro da Teoria da Regência e Ligação desenvolvida a partir de Chomsky (1981). Frente a dados diacrônicos do PB, o autor registrou alterações relativas principalmente à supressão do clítico em sentenças finitas e à sua inserção em sentenças infinitivas, além do processo de reanálise sintática que permitiu que se apassivador deixasse de receber a interpretação passiva para ser interpretado apenas como indeterminado. Com efeito, após a observação e a análise de um corpora composto por cinco bancos de dados, cada um representativo de uma fase da aquisição da escrita, viu-se que a função indeterminadora de se tomou espaço na língua e parece ser preferida em relação à forma apassivadora independente do material em que a sentença é produzida. Do mesmo modo, confirmou-se a hipótese de que a aquisição de se indeterminador e de se apassivador dependem da escolarização. Em bancos de dados representativos da fala em período de aquisição e dos primeiros anos escolares, sua presença é inexpressiva, levando em torno de 12 anos de escolarização para que se faça significativa. Atestou-se, portanto, que o conhecimento interno de um falante escolarizado do Português Brasileiro envolve duas gramáticas, tal qual Kato (2000) propôs: uma interna adquirida naturalmente, com inovações, e uma periférica adquirida na escola, conservadora e pautada nas normas da Gramática Tradicional, que ainda prevê o uso do se e condena outras formas de realizar a indeterminação. Essa última gramática é acionada em situações de fala monitorada ou na escrita que, por essa razão, não apresenta muitas inovações depois de adquirida a gramática escolar.

Palavras-chave: Língua portuguesa - Português escrito - Brasil; Língua portuguesa - Portugues falado - Brasil; Língua portuguesa - Gramática gerativa; Aquisição da segunda linguagem; Língua portuguesa - Clíticos.

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