Resumo

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A poesia de Paulo Leminski : da invenção à distração

Ricardo Gessner

Orientador(a): Marcos Aparecido Lopes

Doutorado em Teoria e História Literária - 2017

Nro. chamada: TESE DIGITAL - G333p


Resumo:
O presente estudo aborda os dois livros de poesia que Paulo Leminski (1944 – 1989) publicou em vida: Caprichos e Relaxos (1983) e Distraídos Venceremos (1987), mapeando um projeto poético geral, realizado em ambos. A estreia de Paulo Leminski (1944 – 1989) deu-se em 1964 na revista Invenção, veiculada ao Movimento da Poesia Concreta. Nesse período, é nítida a aplicação dos recursos “verbivocovisuais”, reivindicados pelos concretistas e utilizados por seus adeptos, em que o curitibano desenvolve poemas conjugando as linguagens verbal e visual. Contudo, até a publicação de Caprichos e Relaxos (1983) sua poesia passou por um processo de reformulação. Nosso intuito é demonstrar que esse processo corresponde à fase inicial de seu projeto, caracterizado primordialmente pela consolidação de uma dicção própria. O Concretismo propôs uma poesia adaptada ao contexto tecnológico para, dessa forma, tornar-se acessível a qualquer pessoa; entretanto o resultado foi adverso: a maior parte dos poemas constituía-se de linguagem especializada, até hoje distante das expectativas de um leitor comum. Leminski percebeu essa limitação, mas vislumbrou na associação com a tecnologia um modo de reverter o problema: seu apreço pelos meios de comunicação em massa, cultura de massa, publicidade, são recursos para equilibrar o “rigor formal” com certo “relaxo” (em referência ao título do livro). Segundo Marshall McLuhan, toda tecnologia, depois de adaptada e inserida na sociedade, promove uma mudança no aspecto psicossocial das pessoas; segundo nossa perspectiva, Leminski opera nesse sentido: sua poesia almeja uma adaptação a essas mudanças. Já o livro Distraídos Venceremos (1987) implica na realização de um projeto temático: “a abolição da referência”, segundo os dizeres do prefácio. Propomos que se trata da realização de um projeto antigo, apresentado uma década antes a Régis Bonvicino, nalgumas cartas; chamar-se-ia “e?”. A “abolição da referência” implica na conjunção de três itens: estético, ético e existencial. O primeiro significa a valorização do signo icônico, segundo a teoria semiótica de Charles Sanders Peirce; trata-se daquele em que o signo mantém uma relação de analogia com seu objeto, deixando-se a referência, portanto, em segundo plano. O nível ético é o desdobramento disso: como o ícone, a priori, valoriza um tipo de poesia centrada em sua própria materialidade, esse “fechamento” é representativo de uma conduta típica da modernidade, caracterizada por Theodor Adorno como de “resistência”; fechar-se em si mesma é um gesto de negação da realidade hostil. Por fim, o nível existencial reflete uma concepção de pensamento simpática ao “desprezo” pelo mundo, ao mesmo tempo em que se busca uma aproximação maior entre mente e realidade, como foi o zen. Portanto, Distraídos Venceremos desenvolve um projeto temático, interpretado neste estudo como sendo uma leitura do contexto psicossocial em que Leminski se encontrava, conforme discutido em relação ao livro anterior.

Palavras-chave: Leminski, Paulo, 1944-1989. Caprichos e relaxos - Crítica e interpretação; Leminski, Paulo, 1944-1989. Distraídos venceremos - Crítica e interpretação; Poesia brasileira - História e crítica.

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