Resumo

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A fonética e a fonologia da harmonia de [ATR] do português brasileiro

Magnun Rochel Madruga

Orientador(a): Maria Bernadete Marques Abaurre

Co-orientador(a): Silke Hamann

Doutorado em Linguística - 2017

Nro. chamada: TESE DIGITAL - M267p


Resumo:
Este trabalho apresenta uma análise das vogais pretônicas alvos de harmonia vocálica no português brasileiro. A partir da análise dos dialetos Gaúcho e Baiano, o trabalho descreve acusticamente as vogais pretônicas e tônicas envolvidas no processo de harmonia. O interesse pelo tema decorre da limitada abordagem fonético-acústica do fenômeno na literatura da área, sobretudo para investigar o papel de vogais baixas no gatilho da harmonia, assim como o papel das consoantes adjacentes. O trabalho aprofunda a observação de harmonia com vogais baixas constatada por Abaurre-Gnerre (1981), fenômeno defendido como um processo de harmonia governado pelo traço [ATR]. Para isso, desenvolveu-se um experimento que contou com a participação de seis sujeitos (3 homens e 3 mulheres) de cada dialeto. A análise fonético-acústica das vogais partiu das medidas do primeiro e segundo formantes (F1 e F2) das vogais acentuadas e das pretônicas. A partir da descrição acústica das vogais do português brasileiro, investigou-se em específico o comportamento das vogais pretônicas /e/ e /o/, alvos do processo de harmonia,constatando-se experimentalmente que a influência coarticulatória principal advém das vogais tônicas baixas /?, a, ?/ que agem como gatilho da harmonização. Partindo-se, então, dos resultados experimentais, o trabalho desenvolve uma metodologia chamada de Vowel Threshold baseada nas medidas dos parâmetros acústicos F1 e F2. Vowel Threshold tem como objetivo estimar limiares de categorias vocálicas no espaço acústico e desta forma mapear os movimentos de alçamento e abaixamento, anteriorização e posteriorização na produção de uma vogal. Esse método reduz os valores de F1 e F2 a uma escala que tem como ponto de referência o valor zero, que seria considerado o valor esperado para o token de uma vogal se não houvesse vieses introduzidos pela coarticulação V-V, pelas consoantes intervenientes ou outro processo relacionado à fala. Com essa medida, estipula-se um valor crítico que determina se uma vogal sofreu movimentos intra ou inter categoria. Os resultados da análise das medidas de Vowel Threshold evidenciaram que as vogais /e, o/ de todos os sujeitos não tendem ao alçamento para [i, u], mas são abaixadas para [?, ?] pelos falantes tanto do dialeto Gaucho quando do dialeto Baiano, embora haja variação intra e inter-falantes. Os resultados experimentais evidenciam ainda: (1) consoantes precedentes não possuem efeito de abaixamento ou de alçamento nas vogais /e, o/; (2) as consoantes soantes intervenientes são transparentes ao abaixamento nos dois dialetos, enquanto as obstruintes parecem ser opacas no dialeto Gaucho; (3) há um processo dissimilátorio no dialeto Baiano que não se configura como desarmonia, mas indica uma tendência a abaixamento intra-categoria, motivado pelo desarmonia de posterioridade entre o alvo e o gatilho. O trabalho ainda apresenta uma re-análise dos corpora de Bisol (1981) e Barbosa da Silva (1989) de modo a verificar o processo de harmonia de [+alto] constatado por essas autoras para discutir a supremacia da harmonia de altura no português brasileiro, contrastando com os resultados experimentais encontrados. Por fim, o trabalho evidencia que a harmonia de [ATR] parece ser o processo ativo do português brasileiro; e como evidência para isso, são trazidos argumentos da interação fonologia-morfologia, da contrastividade de vogais, da atribuição do acento secundário e do enviesamento introduzido pela ortografia nas análises do processo harmonia vocálica. Argumenta-se também que há um bloqueio da harmonia de [+alto] cuja motivação parece estar nas presença das oclusivas coronais /t, d/ precedentes às vogais-alvo. Traz-se evidência da literatura de que a harmonia de [+alto] é evitada por linguísticas, mas também sociolinguísticas, com resultados indicando um uso decrescente da harmonia de altura considerandos-se a idade e a escolaridade dos falantes.

Palavras-chave: Língua portuguesa - Brasil - Fonologia; Língua portuguesa - Fonética; Língua portuguesa - Vogais; Língua portuguesa - Dialetos - Brasil; Língua portuguesa - Português falado - Rio Grande do Sul; Língua portuguesa - Português falado - Bahia

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