Resumo

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Aspectos linguísticos do discurso delirante

João Pedro de Souza Gati

Orientador(a): Rosana do Carmo Novaes Pinto

Mestrado em Linguística - 2017

Nro. chamada: TESE DIGITAL - So89a


Resumo:
Este trabalho teve como principal objetivo descrever e analisar o fenômeno conhecido como “delírio”, ou como chamamos aqui o “discurso delirante”, um sintoma bastante reconhecido em quadros de doenças mentais. Buscamos a partir da pesquisa compreender aquilo que caracteriza tal discurso como inverossímil e singular e por qual razão ele causa tanto impacto no ouvinte, por que provoca um efeito de estranhamento. As ideias delirantes ou delírios podem ser definidos como juízos patologicamente falsos, como erros do ajuizar, que têm origem na doença mental (Jaspers, 1979). Sua base é mórbida, pois é motivado por fatores patológicos. O delírio consiste num dos sintomas mais característicos nas psicoses, sobretudo na esquizofrenia e, ao longo dos anos, já foi alvo de inúmeros estudos e pesquisas realizados em diversas áreas do conhecimento, sobretudo nos campos da medicina e psicologia. Consideramos para esta pesquisa que a manifestação do delírio se dá por uma via discursiva, materializada na forma de enunciados ou narrativas (orais ou escritas), o que abre espaço para uma investigação de cunho linguístico que se revela ainda incipiente no campo. Partimos do princípio de que o foco da análise linguística é o enunciado delirante. Dessa forma, focaremos em dados extraídos de entrevistas realizadas com pacientes diagnosticados com esquizofrenia e internados na enfermaria de psiquiatria do Hospital de Clínicas da Unicamp (pesquisa autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, Processo 55959916.9.0000.5404). A pesquisa, de natureza qualitativa (Damico, 1999) é orientada pelo paradigma microgenético de análise (Góes, 2000) e caracteriza-se pela busca de indícios que possam revelar o funcionamento linguístico-discursivo presentes nos quadros de delírio. Foram destacadas tanto as características estruturais formais (fonético-fonológicos, sintáticos, semântico-lexicais), quanto os aspectos pragmáticos e discursivos presentes nas narrativas de sujeitos diagnosticados com a doença. Destacamos que uma das principais bases de análise foram a semântica vericondicional e a pragmática conversacional. Nossos resultados mostram que o que faz do discurso delirante um fenômeno singular em sua essência é a relação que o sujeito estabelece entre os signos, os seus sentidos e as referências (os objetos do mundo e os objetos do discurso). Consideramos que a violação de princípios semânticos e pragmáticos torne o discurso delirante algo muitas vezes impenetrável ou, como nos referimos na dissertação, nos cause um efeito de estranhamento.

Palavras-chave: Delírio; Doentes mentais - Linguagem; Análise do discurso; Semântica; Pragmática.

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