Resumo

Versão para impressão
A organicidade musical de Divina Quimera (1916), de Eduardo Guimaraens

Ellen Guilhen

Orientador(a): Eduardo Sterzi de Carvalho Júnior

Doutorado em Teoria e História Literária - 2017

Nro. chamada: TESE DIGITAL - G945o


Resumo:
Em 1916, Eduardo Guimaraens (1892-1928) publica o livro de poemas Divina Quimera, cujo título remete a duas obras poéticas cuidadosamente estruturadas: Divina Comédia, de Dante Aligheri, e As Quimeras, de Gérard de Nerval. As sucessivas alusões a outros poetas, com destaque para as homenagens da Parte II, sugerem a presença conjunta de outros modelos estruturais: Charles Baudelaire e suas Flores do Mal, Stéphane Mallarmé e suas Poésies, Edgar Allan Poe e seus ensaios. Dentre todos, a configuração rítmica de Poésies é a que mais se aproxima da organicidade do livro de Guimaraens. A primazia do ritmo explica: o conteúdo bastante enigmático de alguns poemas, envoltos em ambiguidade; a demanda por alternância, na composição do livro, entre partes mais fluidas (I, III, V) e partes de estrutura mais rígida (II, IV, “Final”); a presença de trechos mais fluidos no interior de estruturas fixas (forma-sonata, conjunto de sonetos) e de poemas de forma fixa em partes mais fluidas (rondel, sonetos, balada, nas Partes I, III e V do livro). Tal eleição não significa que a ambivalência baudelaireana e que o sublime dantesco, relidos por Guimaraens, não estejam também amalgamados à estrutura, com suas harmônicas contradições contribuindo para o fugidio, o sugestivo e o misterioso, tão caros a Poe e Nerval. Significa apenas que o traço narrativo mínimo se submete de tal modo ao ritmo, sendo por ele guiado e nele diluído, que atua como um pretexto. É o ritmo (e não a progressão temática) que configurará a unidade do livro. Essa organização se aproxima da fantasia, um gênero de composição musical que incorpora livremente outras formas como a forma-sonata e o noturno. Inicialmente sinônimo de “jogo de invenção imaginativa”, a liberdade criativa que a caracteriza permite que cada pequeno momento brilhe, com suas ambivalências e insolúveis mistérios, em paralelo a muitos outros. A analogia da estrutura do livro com esse gênero garante que fazer suceder partes contrastantes e mesmo realizar transições bruscas (como a observada entre as Partes I e II) não compromete a escuta de Divina Quimera também como um organismo musical. A tese se inicia com uma discussão sobre as três edições já publicadas, justificando sua opção pela primeira, de 1916. O Capítulo 1 resgata, a partir de revistas acessadas por meio da Hemeroteca Digital, o título inicialmente pretendido – “Do Ouro, do Sangue e do Silêncio” – e, no cotejo das diferentes versões dos poemas, delineia um movimento de “desrealização” semelhante ao observado na produção de Mallarmé por Hugo Friedrich. O Capítulo 2, intitulado “O livro como unidade”, apresenta aspectos da configuração das coletâneas supracitadas – Flores do Mal, Divina Comédia e Poésies – que estariam presentes na tessitura do livro Divina Quimera e desemboca na proposta de leitura de livro como uma composição análoga à fantasia, na acepção musical do termo. O Capítulo 3, “Alguns relâmpagos”, oferece a análise de poemas – “Prelúdio”, [Às vezes, quando vou por altas horas, quando], “Dante”, “Chopin”, “Túmulo de Baudelaire”, “A Stéphane Mallarmé”, [Dentro da noite, misteriosamente], [Hoje, noite de outubro], “Sonata sentimental”, [Vaga, do fundo de ouro e cinza de uma vaga], “Final”, entre outros – que vivenciam pequenos concertos dessas vozes regidas pela flauta e pela viola de Eduardo Guimaraens. Divina Quimera se mostra, assim, uma realização muito peculiar de princípios do que foi conhecido como movimento simbolista, merecendo novas publicações e estudos.

Palavras-chave: Guimaraens, Eduardo, 1892-1928. Divina Quimera - Crítica e interpretação; Poesia brasileira; Fantasia; Música e literatura.

. Rua Sérgio Buarque de Holanda, no 571
Campinas - SP - Brasil
CEP 13083-859

...

IEL - Based on Education theme - Drupal Theme
Original Design by WeebPal.