Resumo

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A constituição dos discursos escritos em práticas de letramento acadêmico-científicas

Ângela Francine Fuza

Orientador(a): Raquel Salek Fiad

Doutorado em Linguística Aplicada - 2015

Nro. chamada: TESE DIGITAL - F989c


Resumo:
A existência do discurso que postula a escrita acadêmica como homogênea, não considerando as práticas acadêmico-científicas de letramento e a comunidade científica envolvidas no processo de constituição do discurso, é a problemática que desencadeia a realização desta pesquisa. Defendo, assim, que, o discurso acadêmico concebido com base nos múltiplos letramentos possibilita repensar a noção de escrita homogênea, desmistificando a ideia de que todos os participantes das comunidades científicas escrevem da mesma forma. Nesse sentido, o objetivo geral do estudo é compreender como se constituem os discursos escritos nas práticas de letramento acadêmico-científicas, a partir da análise dos seguintes elementos: (1) discursos oficiais (CF, LDB, PNE, normas das agências de pesquisa); (2) cursos de escrita acadêmica on-line; (3) normas para publicação e para avaliação das revistas científicas; (4) artigos publicados em revistas científicas brasileiras A1 das diferentes áreas do conhecimento, visando à identificação de suas configurações. Para tal, a pesquisa, caracterizada como qualitativo-interpretativa, com procedimentos investigativos de base documental, orienta-se a partir das seguintes abordagens teóricas: a abordagem sociocultural do letramento (STREET, 1984; LEA; STREET, 1998, 2006; LILLIS, 1999, entre outros), a teoria dos gêneros discursivos e a abordagem de análise da língua, tratados por Bakhtin (2003) e Bakhtin/Volochinov (1992), tendo em vista o fato de considerar o social e suas práticas de letramento como elementos constituintes dos enunciados produzidos cientificamente. A análise dos dados possibilitou algumas constatações: (i) os discursos oficiais abordam a ciência de forma democrática e deliberativa; enquanto CF, LDB e PNE destacam a liberdade na produção e na divulgação do conhecimento, os discursos das agências de fomento, do CNPq e da Capes deliberam formas de produzir academicamente; (ii) as normas de avaliação, de forma geral, não são explicitadas aos pesquisadores no momento da produção do texto, havendo somente a exposição das normas de submissão dos artigos, ligadas àquilo que é mais homogêneo na escrita; do mesmo modo agem os cursos de escrita acadêmica, pois priorizam o trabalho com o aspecto composicional do gênero; (iii) os periódicos analisados dialogam e respondem aos discursos oficiais em proporções variadas, sendo bastante evidente a resposta aos discursos do CNPq e da Capes. Há ainda um diálogo direto dos periódicos com os discursos presentes nas normas de escrita dentro da academia, como a ABNT, os cursos de escrita on-line e as agências de fomento. De certo modo, busca-se uma padronização na forma de escrita, homogeneizando o texto. Tal fato pode ser justificado pela necessidade de consenso dentro das comunidades científicas sobre o que é escrever academicamente. A tendência por especificar a composição do gênero em detrimento das questões mais discursivas não é fator deficitário, tendo em vista que os enunciados se configuram por meio de elementos formais e discursivos, vislumbrando-se a circulação do conhecimento. A questão maior é quando prevalece no discurso o foco no âmbito composicional, fato que pode conduzir à homogeneização, mascarando-se as marcas subjetivas no texto, levando ao apagamento do sujeito; (iv) a descrição e a análise dos artigos científicos possibilitaram constatar marcas que reforçam a tese da heterogeneidade dos textos. Destaco, assim, os elementos responsáveis por caracterizar, de forma heterogênea, os artigos das diferentes áreas do conhecimento, a saber: a materialidade discursiva dos artigos científicos; a questão do objetivismo e do subjetivismo da escrita; o monologismo, o dialogismo e as relações dialógicas estabelecidas nos artigos das diferentes áreas. Os resultados apontam que há tendência à homogeneidade da escrita assim como ao letramento autônomo e ao modelo de socialização acadêmica, demarcando-se a relação entre artigos e normas de submissão, normas de avaliação, cursos de escrita acadêmica e discursos oficiais; no entanto, há, também, evidências de heterogeneidade da escrita, tendendo ao modelo do letramento acadêmico, voltando-se para a discussão a respeito da heterogeneidade. Os resultados demonstram a correlação entre heterogeneidade e homogeneidade; esta é bastante evidente no aspecto composicional do gênero artigo, no entanto não se restringe a ele, marcando-se, em menor proeminência, no tema e no estilo do gênero. Dessa forma, há, no âmbito acadêmico dos discursos de escrita, uma heterogeneidade ainda que a organização composicional tenda à homogeneidade. Os indícios de heterogeneidade possibilitam inferir que já se inicia um processo de repensar as práticas de escrita acadêmica.

Palavras-chave: Redação acadêmica; Redação científica; Letramento - Estudo e ensino (Superior); Generos discursivos; Publicações científicas.

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