Resumo

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Emergência da negação e prosódia : estudo de casos de uma criança brasileira e uma criança francesa

Angelina Nunes Vasconcelos

Orientador(a): Ester Miriam Scarpa

Doutorado em Linguística - 2017

Nro. chamada: TESE DIGITAL - V441e


Resumo:
O presente trabalho tem por tema o desenvolvimento da negação a partir do estudo de registros longitudinais de uma criança brasileira durante seus trinta e dois primeiros meses de vida, em comparação a registros realizados com uma criança francesa também durante este período. Para tanto, foram analisadas as produções infantis interpretadas pelos adultos como protestos, oposições e negações. Neste sentido, vários estudos têm se concentrado sobre as habilidades perceptuais infantis, afirmando como recém-nascidos já são capazes de tratar e discriminar aspectos prosódicos da fala dirigida à criança (NAME, 2011a; 2011b; PAPOUSEK; PAPOUSEK, 1981). De maneira semelhante, pesquisadores concentram-se sob as produções infantis, sublinhando como bebês de apenas nove meses de idade são capazes de produzir características rítmicas e entonacionais de sua língua materna (KONOPCZYNSKI, 1990; 1991). A partir desta linha de investigação, analisam-se registros videográficos realizados em contexto natural e cotidiano de interação entre a criança e seus pais (durante banho, refeições e brincadeiras). Os vídeos foram analisados a partir dos programas PHON, PRAAT e ELAN. A partir do programa PHON e ELAN realizou-se a notação da sincronização entre os movimentos gestuais e as produções negativas das duas crianças. As análises acústicas foram realizadas a partir do programa PRAAT, no qual foram registradas a duração silábica das produções infantis em milissegundos (ms) e os valores de Fo (altura da voz da criança em Hertz/HZ). Os resultados são organizados em quatro seções. Inicialmente descrevem-se os protestos e oposições, conforme interpretados pelos pais, produzidos pelas crianças no período que antecede o surgimento das primeiras negações linguisticamente estruturadas (por volta dos 16 meses de idade). Em seguida, classificam-se as negações produzidas pelos adultos e criança em funções (rejeição/recusa, expectativas insatisfeitas, ausência/desaparição, proibição/comando, oposição/correção, rogativa negativa, negação epistêmica e negação funcional) conforme descritas por Beaupoil-Hourdel (2013). Posteriormente, os gestos produzidos pela criança são descritos e, por fim, as características prosódicas das últimas negações registradas (entre 29 e 32 meses) são analisadas. Como conclusão, destaca-se o papel da prosódia no desenvolvimento da negação, tanto na caracterização das primeiras produções negativas infantis, quando na estruturação dos primeiros enunciados negativos. Destacam-se similaridades nos dois casos analisados, como a observação de que a função negativa rejeição/recusa é a primeira a ser produzida pelas duas crianças, sendo expressa através de marcadores simples como ‘não’ e ‘non’. Sobre a produção gestual das duas crianças, é possível observar uma especialização funcional nos gestos produzidos, como a utilização de gesto com a mão espalmada em contextos de rejeição e gesto de apontar em situações de proibição. É possível concluir que o uso de gesto aliado à prosódia fornece recursos importantes para a criança, que os utiliza na construção da negação de maneira multimodal. Destaca-se também a complexificação progressiva das negações produzidas pelas duas crianças através da inclusão de pronomes pessoais em seus enunciados, bem como através da introdução de variações nas partículas negativas utilizadas.

Palavras-chave: Aquisição de linguagem; Língua portuguesa - Brasil - Negação; Língua francesa - Negação; Língua portuguesa - Versificação; Língua francesa - Versificação; Multimodalidade (Linguística); Crianças - Estudo de casos.

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