Resumo: Este trabalho realiza uma leitura comparativa entre as obras da literatura contemporânea brasileira K. - relato de uma busca (2011) e Não falei (2004), tendo em vista o teor testemunhal dessas obras em relação ao período da ditadura civil-militar brasileira. Escritas com um distanciamento temporal de mais de quarenta anos, as obras constroem uma leitura acerca do passado histórico a partir do presente, e principalmente da tentativa de elaboração da experiência traumática por parte dos sobreviventes. A inscrição do trauma dos sobreviventes percorre, principalmente, as questões do luto e da culpa; bem como a dificuldade da realização do trabalho de luto e da expiação. A narração e o testemunho serão, dessa forma, uma tentativa necessária, ainda que fragmentária e determinada sob o signo da impossibilidade, de elaboração da experiência. De outra parte, as obras debatem a crítica e a autocrítica das violências perpetradas durante o período ditatorial brasileiro, bem como exigem a definição das responsabilidades e de formas de reparação. Refletem sobre o passado no contexto de seu tempo, o presente, sobre uma história que ainda não acabou, mas que é decidida também pelo movimento dos dias atuais. A leitura intertexual perpassa os debates dos campos do saber da literatura, da filosofia, da psicanálise, da história e da educação, bem como de outras criações literárias e artísticas.
Palavras-chave: Kucinski, Bernardo, 1937-. K. : relato de uma busca; Bracher, Beatriz, 1961-. Não falei; Literatura moderna; Ditadura - Brasil - Séc. XX; Militarismo - Brasil; Violência política; Luto.