Resumo: Este trabalho pretende realizar uma nova leitura de Infância de Graciliano Ramos, propondo o ponto de vista infantil como uma chave para decifrar as singularidades literárias desta obra e distingui-la das demais autobiografias brasileiras. Após uma breve apresentação da evolução dos estudos autobiográficos nas últimas décadas, da valorização da infância na época moderna e da evolução da literatura autobiográfica no Brasil, que sugere Infância como a obra inauguradora da “autobiografia da infância” no país, a análise concentra-se em três aspectos: a formação do menino Graciliano, que conhece o mundo subjetiva e intuitivamente, segundo um critério próprio e divergente daquele adoptado pelos adultos; os conflitos entre o protagonista-criança e os adultos à sua volta, nos quais se salientam o sofrimento da criança no processo de aprendizagem e sua resistência perante a dominação e disciplina das autoridades adultas; e as estratégias literárias que ultrapassam a grande distância entre a realidade mágica, lírica e irracional da vida infantil e a linguagem clara, lógica e erudita do escritor adulto. Assim, mostra-se que em Infância se predomina uma poética da infância, que transforma as vivências triviais nas experiências preciosas, atribui à vida quotidiana um sentido excepcional e substitui a realidade factual pela verdade poética.
Palavras-chave:
Ramos, Graciliano, 1892-1953. Infância - Crítica e interpretação; Literatura brasileira - História e crítica; Autobiografia na literatura; Infância na literatura.