Resumo

Versão para impressão
Espaço de enunciação e processo de gramatização das línguas de Timor-Leste : a configuração discursiva de uma política de língua de Estado

Simone Michelle Silvestre

Orientador(a): Mônica Graciela Zoppi Fontana

Doutorado em Linguística - 2016

Nro. chamada: TESE DIGITAL - Si39e


Resumo:
O objetivo desta pesquisa de doutorado é apresentar e analisar as condições de produção envolvidas no processo de gramatização das línguas de Timor-Leste, principalmente nos séculos XIX e XX, e os efeitos ideológicos produzidos pela gramatização no país, este, desde sempre, afetado pelas divisões entre as línguas e os sujeitos. Para isso, detemos-nos em dois períodos históricos conflitantes na formação do território timorense: o da colonização portuguesa no Timor Português, do século XVI ao XX, e o do controle indonésio, entre 1976 a 1999. Sob a perspectiva da Análise Materialista do Discurso (AD), na sua relação com a História das Ideias Linguísticas (HIL), analisamos sequências discursivas produzidas, entre o século XVI ao XX, por viajantes, missionários católicos, governadores portugueses, guerrilheiros timorenses e discursos sobre as línguas dos prólogos de instrumentos linguísticos escritos pelos padres católicos nos últimos dois séculos. As análises realizadas apontaram que as divisões entre línguas e sujeitos em Timor existiram desde sempre. O malaio assumiu, por muitos séculos, o lugar da língua de comércio, inclusive, disputando espaço com o português. Este foi língua da catequese dos primeiros missionários e da administração colonial portuguesa nas capitais do país, Lifau e Díli. O tétum era a língua dos chefes timorenses, detentores do poder político e militar, católicos, falantes da língua do colonizador e subordinados a ele. Desse modo, foi a primeira língua descrita pelos missionários e aquela que as autoridades locais e portuguesa pretendiam para todo o Timor Português. Quanto às línguas dos espaços não falantes do tétum, do ponto de vista do colonizador, apontou-nas como as responsáveis pela falta de unidade linguística na ilha e que as mesmas não eram línguas. Como efeito do projeto colonial de política de línguas para Timor-Leste, que compreendia a diversidade linguística como um problema, foi que o processo de gramatização, no fim do século XIX, produziu e significou outros sentidos. A gramatização (re)dividiu o tétum e as demais línguas do território, já que aquele foi a única língua timorense promovida ao estatuto de língua e a única com instrumentos linguísticos para o ensino nas escolas oficiais. Na construção imaginária de uma aparente unidade linguística, a gramatização determinou uma norma de correção para as variedades de tétum do Timor Português. Ou seja, pela gramatização houve um tétum “correto” que apagou as variedades e uma aparente regularidade foi instaurada. Já entre o português e o tétum do ensino, estabeleceu-se uma parceria bastante desigual, uma vez que o tétum era língua de apoio para que o timorense aprendesse o português. Com a gramatização para o ensino, aqueles se tornaram línguas “parceiras”, mas com estatutos de poder diferentes. No período da dominação indonésia, entre 1976 a 1999, a língua do Estado em Timor era a bahasa (língua) indonésia e o português foi proibido. Na interdição das línguas em Timor-Leste, o português e o tétum foram as línguas que resistiram pelo fato de serem as duas únicas com gramática, o que, de certo modo, permitiu aos timorenses garantirem pela língua algo que os diferenciassem dos indonésios.

Palavras-chave: Língua portuguesa - Timor Leste; Língua tétum; Língua indonésia - Timor Leste; Gramática comparada e geral - Gramatização; Enunciação (Linguística); Política linguística - Timor Leste; Ideias linguísticas - História.

. Rua Sérgio Buarque de Holanda, no 571
Campinas - SP - Brasil
CEP 13083-859

...

IEL - Based on Education theme - Drupal Theme
Original Design by WeebPal.