Resumo

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Retorno à filologia e humanismo em Edward W. Said

Lucas de Jesus Santos

Orientador(a): Eduardo Sterzi de Carvalho Júnior

Mestrado em Teoria e História Literária - 2016

Nro. chamada: TESE DIGITAL - Sa59r


Resumo:
Esta pesquisa trata do humanismo e da proposta de retorno à filologia de Edward W. Said. Segmentamos a pesquisa em três etapas: primeiro, a abordagem da noção saidiana de Mundanidade, segundo a qual textos, autores, instituições seculares fazem parte de uma esfera mundana, que produz e é constituída através das expressões textuais humanas. Para traçar os contornos do conceito, investimos em uma triangulação entre o intelectual palestino-americano, Giambattista Vico e Erich Auerbach, argumentando que eles formam como que um campo mundano de reflexão, possibilitando Said endereçar os problemas e apontar alternativas para seu tratamento da Filologia e do Humanismo. A Mundanidade funciona, para Said, como uma espécie de ontologia do mundo secular e, sobretudo, como a condição decisiva para a ação ética. Em um segundo momento, abordamos mais especificamente o tema de Filologia em Said. A partir da crítica de concepções racistas e religiosas da Filologia e de sua influência na constituição dos Estudos Literários, argumentamos que Said vê a Filologia como uma ética de leitura, uma forma de intervenção na arena secular da textualidade humana. Nesse sentido, propomos a existência de duas dimensões éticas relacionadas à Filologia, uma ética oposicional e uma ética possibilista: a primeira diz respeito ao vetor de resistência que envolve toda interpretaçao; a segunda se refere à capacidade da leitura de constuir novas relações intertextuais, interinstitucionais e políticas, sem apelar para a fixação de métodos ou formas reproduzíveis de interpretação. Em terceiro lugar, nos detemos sobre o tema do Humanismo. Abordamos o humanismo em perspectiva histórica, acentuando seu surgimento simultâneo à empresa colonialista na Europa, demonstrando o compartilhamento de pressupostos onto-epistemológicos entre Humanismo e Colonialismo, e como ambos sistemas de pensamento forjaram uma imagem fixa do humano universal. Em seguida, tratamos da crítica de Frantz Fanon a esse entrelaçamento, devido ao fato de seus argumentos haverem sido de suma importância para a visão renovada de Said sobre o Humanismo. Ao mostrar essas discussões entorno do tema, discorremos sobre o modo como a imagem universal de humano foi herdada pelo sistema educacional superior americano, e como as discussões sobre o currículo das Humanidades foram marcadas por injunções de pureza da figura humana. Finalmente, argumentamos que o Humanismo advogado por Said é, ao contrário do anterior, aberto às transformações sociais, culturais, políticas e sensível às demandas dos povos e populações que começaram cada vez mais fortemente a exigir seus direitos e a marcar sua presença no cenário político-cultural. Nesse sentido, defendemos que o Humanismo de Said tem um sentido cosmopolita, mas que não se basea nas ideias de pertencimento e fixidez requerida pelo cosmopolitismo iluminista. O humanismo cosmopolita de Said é exílico e em constante deslocamento, não permitindo qualquer forma de estabilidade limitadora ou síntese apaziguadora. Por fim, concluímos por propor um alargamento das possibilidades do Humanismo e da Filologia na contemporaneidade, por fazê-los encarar o problema do Antropoceno e das mudanças climáticas terrestres. Acreditamos que, na esteira do que Said propunha para qualquer forma de expressão acadêmica, é imprescindível pensá-los sob as novas configurações de humanidade e mundo que advêm contemporaneamente.

Palavras-chave: Said, Edward W., 1935-2003 - Crítica e interpretação; Filologia americana; Humanismo na literatura; Ética.

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