Resumo

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Língua, arquivo, acontecimento : trabalho de rua e revolta negra na Salvador oitocentista

Fábio Ramos Barbosa Filho

Orientador(a): Lauro José Siqueira Baldini

Doutorado em Linguística - 2016

Nro. chamada: TESE DIGITAL - B234L


Resumo:

Este trabalho busca compreender os processos de textualização do discurso sobre o trabalho de rua na Salvador oitocentista. Na medida em que esse discurso se articula, de forma incontornável, à malha discursiva antiafricana/antinegra, coube fazer um percurso acerca da legislação provincial, que toma o corpo negro como objeto de um controle irrestrito durante todo o século XIX e, mais fortemente, após a rebelião malê de 1835. No quadro das insurreições, revoltas e insubordinações que tomaram conta da Bahia oitocentista, um acontecimento mereceu atenção mais detalhada. No ano de 1857, na primeira semana do mês de junho, os ganhadores – trabalhadores urbanos, libertos e escravos, majoritariamente africanos, que eram a força de trabalho fundamental no transporte de pessoas e mercadorias na cidade de Salvador – não foram às ruas trabalhar ou, como se dizia à época, “ganhar”. Durante quase dez dias essa ausência produziu um imenso debate entre políticos e cidadãos. Produziu, sobretudo, inúmeros enunciados, escritos nos jornais e nos arquivos, inscritos em redes de memória e espaços de reformulação que produzem por sua vez efeitos de vinculação e rememoração que recuperam, no espaço do dizer, o já-dito, esquecido e reabsorvido pela memória discursiva. Os ganhadores, protagonistas e autores da “revolução”, não puderam protagonizar, porém, o espaço da palavra: escaparam à autoria do arquivo, não tiveram lugar de fala no jogo institucional e jornalístico que determinava de forma precisa quem poderia falar sobre o quê. Mas o real da história, esse espaço contingente e contraditório que não conhece a determinação do necessário, faz o silêncio, o não-dito aparecer nas lacunas, nos intervalos, transversalmente. Mesmo que pela coação, pela consignação do dizer e pelas palavras de outrem, ele transpira, insiste e dá indícios de que algo fala de outro lugar, seja por inversão, torção, metáfora ou por jogo, negação, predicação. Recuperando esses dizeres em diferentes domínios de textualização (jornais, atas da câmara, leis, decretos etc.) buscou-se dar visibilidade à confluência de domínios de memória que vão desde a fundação de Salvador à ainda quente memória/atualidade das insurreições negras na Bahia que incendiaram o século XIX: o acontecimento produz, cria tanto o cenário para a produção de um discurso que o poder político constrói sobre o “outro hostil” quanto para a discursividade que articula a cidade, o poder político e o poder econômico. Do ponto de vista procedimental, os documentos, jornais e manuscritos que compõem o corpus foram selecionados após extensa pesquisa em arquivos públicos da cidade de Salvador. Esse trabalho de leitura, transcrição e criação do corpus será tematizado e discutido, visto que na Análise de Discurso o próprio percurso de montagem do corpus é já parte do procedimento analítico.

Palavras-chave: Análise do discurso; Arquivos públicos - Salvador (BA); Documentos públicos; Escravos - Insurreições, etc. - História; Revoluções - Salvador (BA) - 1857; Salvador (BA) - História - Séc. XIX.

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